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UM GOLE DO UNIVERSO

em crônicas

Em 2016 coloquei como uma das metas do ano "Aprender a fazer um bom nhoque", mas foi só no final de 2018 que finalmente fiz um nhoque com cara e sabor de nhoque. Um prato que eu pensei "Eu pagaria por isso em um restaurante. Não pagaria muito caro, mas pagaria". E considerando meus talentos gastronômicos, pra mim isso foi uma baita conquista, que só foi possível porque eu me empenhei muito mais do que nos anos anteriores. Em um mês eu fiz mais nhoques (e tentativas de nhoques) do que a soma de todas as tentativas dos dois anos anteriores. Eu aprendi empiricamente que a repetição constante é um importante hábito para aprendermos a fazer algo que exige técnica, tal como escrever... Que é uma das minhas metas de 2019 :)

  • Foto do escritorKaren Harumi

Chronically Metropolitan

Atualizado: 20 de set. de 2019

Avaliação: [* de *****]


Visivelmente, infelizmente, não consegui cumprir com a coisa toda de 1 crônica por dia no mês de janeiro...


Ainda assim, todos os dias que eu consegui escrever me renderam já muitas coisas que não sei muito bem por onde começar, mas sei que não quero terminar tão cedo...


Por isso aqui estou mesmo já não sendo mais janeiro!


Resolvi procurar um novo desafio e decidi aliar essa coisa de escrever todo dia com uma "diversão funcional". Decidi escrever aqui ao menos uma vez na semana sobre os filmes que estão na Netflix que envolvem o mundo literário de alguma forma. Pensei que isso talvez me ajude a me conectar mais com essa "comunidade" de gente que escreve.


Parece que todo filme de escritores eles estão perdidos, parece que não dá pra escrever se você não estiver com a cabeça toda estragalhada antes. E comecei com um bem clichê nesse sentido: Chronically Metropolitan.


Mé.


O filme não chegou a ter o título traduzido, mas traduziu o nome da revista The New Yorker para "O Novo Yorker". Eu realmente acho que isso diz muito sobre ele.


Segundo a própria Netflix, "um jovem escritor volta a Nova York com bloqueio criativo, esperando restabelecer contato com a ex -- que agora está noiva -- e os pais boêmios". E, olha, apesar de ter achado a premissa meio bosta, acho que ela resume bem a história do filme sem contar muito. O problema da premissa é o próprio filme.


O Rotten Tomatoes tá dizendo que 41% das pessoas gostaram, que bom pra elas.


Que péssimo pra mim que não faço parte delas.


Eu consigo gostar de bastante coisa no mundo dos filmes, principalmente porque eu durmo em quase todos eles, mas os melancólicos não me descem. Na verdade, tem uma categoria de filme que eu chamo "Filmes que só a minha irmã mais velha assistiria" que eu tenho pavor. PAVORZÃO. Esse pavor começou em 2000 e bolinha quando assistimos As Virgens Suicidas e até hoje eu oro para esquecer os minutos que passei vendo esse filme ao lado dela sem conseguir dormir (foram poucos, mas foram o suficiente; para a minha sorte, até que eu dormi bastante). Acho que mais traumatizada do que eu, só a minha irmã do meio.


Chronically Metropolitan não tem nada a ver com As Virgens Suicidas, mas trouxe em mim aquela sensação de que o filme nunca vai acabar. As atuações não são péssimas (também não são excelentes), mas nada me convenceu. Nem os momentos felizes, nem as tensões, nem as tristezas, nem os impulsos, nem as paixões. De alguma forma tudo me pareceu forçado e clichê: Nova York, o tom amarronzado da cenografia, os problemas pessoais, os conflitos internos, os diálogos, os desfechos das relações, o cabelo sujo do personagem principal. Eu vi uma pretensão descolada, que pra mim não colou.


Fiquei ainda mais brava porque a Netflix categorizou como Comédia com Humor Negro.


Não ri uma vez.


Foi como comprar um pudim e descobrir que ele foi feito com leite e Maisena ao invés de leite condensado.


MAS eu decidi que eu não vou me prolongar sobre o filme em si, até porque eu já falei tudo o que eu pensei dele: um grande mé.


MAS sim do que eu vejo do mundo literário no filme:


A ideia de que só conseguimos escrever quando enfrentamos os nossos problemas me incomoda um pouco, mas até aí, tudo bem, é uma ideia clássica exatamente por ser verdade para muitos, às vezes para mim também, mas quase nunca.


A ideia de que a genialidade acompanha um psicológico perturbado também me incomoda bastante, porque por muito tempo eu acreditei nisso. Que todo gênio devia ser alguém desagradável por detrás das páginas. Precisei conhecer algumas pessoas que, não são nadas perfeitas, mas que me mostraram que a genialidade é uma característica humana independente como qualquer outra para descobrir que isso não é verdade. Da mesma forma que uma pessoa ser bonita não significa que é burra, ser genial não significa que você tem a mente desgraçada.


Mas a parte que me trouxe uma boa reflexão foi quando a personagem Mãe (vamos chamá-la assim porque não lembro o nome) disse:


"Você, mais que qualquer um, deveria saber que não existe ficção."


E toda vez que conto alguma história, mesmo verbalmente, que envolva alguma pessoa além de mim, principalmente as pessoas próximas ou as "facilmente identificáveis", eu me pergunto se não é uma exposição desnecessária só para atender minha necessidade de preencher o silêncio com palavras?


Sabe?


Eu tento evitar falar se não for de alguma forma para refletir ou enaltecer, mas eu vivo perdendo a mão e falando do que eu vejo como se tudo fosse tão simples quanto o que podemos enxergar. Tenho um longo caminho para aprender a contar sem expor. Tem histórias que de tanto eu mudar os detalhes viram mesmo histórias novas, às vezes até perdem completamente o sentido e o objetivo, ficam confusas e claramente ficcionais, e ainda assim, eu realmente acredito que não existem ficções, mas sim que alguns autores conseguiram encontrar uma forma indireta de contar os seus medos e conhecimentos, suas paixões e sentimentos e suas histórias são só um complemento. Penso isso desde que ouvi "Como podia a Jane Austen ter escrito com tanta propriedade sobre o amor quando ela mesma nunca se casou?".


Casar nunca foi sinônimo de amar, não é? Ainda assim sempre relacionam o ato de sentir com o tangível, neste caso um pequeno pedaço de papel reconhecido por uma grande porcentagem de pessoas que nem conhecemos.


Mas se eu confio muito mais no meu coração do que nos meus olhos, na minha boca, meu nariz, ouvidos ou qualquer outra parte física do meu corpo, não há sentido em escrever fielmente sobre o que é palpável e visível quando o que me inspira é a emoção. Coordenar isso também é a minha dificuldade, o que faz com que as minhas histórias mais sinceras pareçam ficcionais. Algumas verdades são mais facilmente reveladas através da mentira.


Chronically Metropolitan mesmo não me parece ficção, eu sei que é a verdade de alguém. Uma verdade meio mal contada, na minha opinião, mas a minha opinião não é gentil nem comigo mesma e, por isso, essa é parte que eu mais me identifiquei com o filme e que escrevendo bastante por aqui eu espero poder melhorar. Tentando escrever com o cérebro, mas ler à mim mesma com o coração que eu leio Jane Austen.


Cena dO Novo Yorker



Segue a legenda da avaliação:

* - Viveria muito bem sem ter assistido

** - Não foi a pior coisa que já aconteceu na minha vida

*** - Gostei, mas sei que não é grande coisa

**** - Amei!

***** - AMEI E DAQUI UNS ANOS EU AINDA VOU LEMBRAR DO NOME E UM POUQUINHO DA HISTÓRIA! <3

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