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UM GOLE DO UNIVERSO

em crônicas

Em 2016 coloquei como uma das metas do ano "Aprender a fazer um bom nhoque", mas foi só no final de 2018 que finalmente fiz um nhoque com cara e sabor de nhoque. Um prato que eu pensei "Eu pagaria por isso em um restaurante. Não pagaria muito caro, mas pagaria". E considerando meus talentos gastronômicos, pra mim isso foi uma baita conquista, que só foi possível porque eu me empenhei muito mais do que nos anos anteriores. Em um mês eu fiz mais nhoques (e tentativas de nhoques) do que a soma de todas as tentativas dos dois anos anteriores. Eu aprendi empiricamente que a repetição constante é um importante hábito para aprendermos a fazer algo que exige técnica, tal como escrever... Que é uma das minhas metas de 2019 :)

  • Foto do escritorKaren Harumi

Roma

Atualizado: 20 de set. de 2019

Avaliação: [**** de *****]


O que eu gosto em Roma é que fazia muito tempo que eu não via uma história que não é sobre alguém se autoflagelando ou lutando contra seus próprios demônios, é alguém enfrentando o mundo sem saber. Em uma época em que todos parecem estar lutando contra si mesmo, enfrentando seus próprios medos, lidando com estima, ansiedade, solidão, foi estranho lembrar que esses não são os únicos problemas que enfrentamos. Depois de ver tanto filme adolescente da Netflix sobre superação com a minha irmã mais velha, com mensagens de que o preconceito está uma grande parte na mente de quem o sente do que na sociedade (coisa que eu até entendo a ideia, mas não sei se concordo), acho que me tocou muito ver um filme onde mostrava que a pessoa não se sentia menor, mas o mundo a diminuía mesmo assim.


(Há uma grande chance de que eu não tenha conseguido me expressar corretamente por aqui e de que eu me arrependa depois.)


Se eu falei asneira, eu sinto muito por isso. É só que eu senti que a dor que eu vi no filme parece maior do que a minha própria, mesmo sendo tão silenciosa, e fazia muito tempo que eu não me sentia assim. Que o mundo precisa de mim inteira, porque ele por si só já está em pedaços.


Acho que gostei de ver um filme em que eu não me identifiquei com ninguém e ainda assim consegui me identificar com todos ao mesmo tempo. Sabe, isso vai ser difícil de explicar sem contar muito da história. Mas me identifico com muitas ações, com muitas dores, com muitas alegrias, com muitos egoísmos, com muitas ingenuidades, com muitas esperanças. Se eu não estou de um lado, eu estou do outro.


Minha irmã mais velha contou quase tudo sobre o filme antes de eu assistir.

Sobre o pretexto de querer despertar o meu interesse.


Acho que ela não viu o filme como eu vi. Porque pra mim ela contou o “Rosebud”da história toda.


Funcionou, mas ela poderia ter parado quando disse “Parece que alguns atores estão fazendo campanha lá no México pra atriz principal não ganhar os prêmios que a indicaram. Não é estranho o seu próprio país não abraçar a sua conquista? Eles tão falando que é porque ela não era atriz antes, não merece, porque não estudou, nem nada. Tanto que a outra atriz que parece que já era conhecida também está concorrendo e ninguém reclamou.”*

Eu falei pra ela, mas ela já sabia.

“É inveja.”

As pessoas parecem sempre cavucar “defeitos” para expor quando você conquista algo que elas sempre almejaram. Como isso é tão claro quando não é com a gente.


Ficou ainda mais claro quando ela falou “Teve gente maldosa que falou que era porque ela é feia. É inveja pura mesmo.” Dizem que é mais fácil perceber a inveja quando ela está aliada com as características físicas atribuídas pela sociedade (não as atribuídas pelos genes), mas não sei se é verdade. Acho que a inveja é mais fácil de perceber quando tombamos e não vemos o porquê. Aí você chega à conclusão: deve ter sido inveja. Mas isso é algo que você percebe calado. Perceber a inveja te faz soberbo. Você vê? Como tudo foi feito para continuar sendo assim?


Cada um tem um caminho, uma maneira, uma técnica para chegar naquilo que você faz bem. Esse foi o dela. É incrível que ela tenha conseguido interpretar daquele jeito sem nenhum curso. Na verdade quando penso que alguém sem “preparo nenhum”, sem experiência, conseguiu atuar tão bem, fez com que eu a achasse ainda mais brilhante!! Todos naquele filme me fizeram crer que realmente aquilo é um retrato e não um filme em preto e branco. Aquilo é uma verdade.


Aquilo ainda é uma verdade.


Eu gostei muito do filme. Eu ainda não terminei de vê-lo, mas gostei do filme por várias razões. E acho que vou gostar por muitas outras que depois eu volto para escrever, mas achei importante escrever agora, isso que eu percebi às 3h28 de domingo, uma das madrugadas mais rentáveis dos meus últimos anos. Eu percebi algo que eu definitivamente não teria percebido se tivesse saído para alguma festa como eu tanto queria antes. Muito pelo contrário, eu estaria invejando qualquer um que estivesse usando uma roupa com mais glitter do que eu. Eu gosto muito de glitter, sempre achei que tinha a ver com a miopia. Eu poderia escrever todo um texto sobre glitter (os biodegradáveis, juro), mas hoje estou escrevendo sobre Roma.


Aliás, a parte que realmente me fez vir aqui anotar com medo de esquecer, já que não confio na minha memória, eu nem anotei! Mas peraí:


Se tem alguém que eu acho que realmente merece o Oscar nesse filme é o cachorro. Eu gostei muito do cachorro. É raro quando eu não gosto dos cachorros. Mas há uma cena específica em que o cachorro pula todo feliz, abanando o rabo, que me fez pensar: a melhor parte da atuação dele é saber que é real.


Aí você pode vir me dizer “mas então ele não está interpretando” e eu vou te dizer que para interpretar alguém feliz você não precisa estar necessariamente triste. Para interpretar algo, fica mais fácil se você conseguir experienciar a cena, o sentimento que esperam de você, sem deixar que isso afete a consciência de quem você é. E essa é a parte difícil que eu acho que o cachorro conseguiu, ele parece bem feliz e ainda parece saber que é um cachorro, feliz. E não importa a técnica que o cachorro escolheu usar, achei excelente, verdadeiro e eu não vou desmerecer.


...


Acabei de ver tudo.

Não sei se foi só o filme.

A cerveja e a insônia também podem ter tido forte efeito em ideias tão confusas.


Roma me fez pensar...

O que constitui uma família?

Um casal e seus filhos? Um casal? Familiares convivendo na mesma casa? Pessoas convivendo juntas no mesmo espaço?

Não seria família um grupo de pessoas que se amam tentando superar suas limitações biológicas e sociais?

Haveria realmente alguma maneira de abrirmos nossa mente?

Alguma maneira de conhecermos todas as realidades que estão acontecendo?

Haveria algum modo da nossa dor não pisar em cima da dor do outro?


Um amigo acabou de comentar que achou Roma um filme forte, sobre Dor. Eu não disse nada, mas achei interessante que pouco antes eu havia pensado que Roma poderia ser visto como um filme sobre Ser Mulher. E tal como a vida, a parte mais interessante do filme é que não tem começo nem fim, é só algo que acontece... Muitas vezes. Um ciclo que só muda de cenário.





*Eu não pesquisei a veracidade dessa informação.





Segue a legenda da avaliação:

* - Viveria muito bem sem ter assistido

** - Não foi a pior coisa que já aconteceu na minha vida

*** - Gostei, mas sei que não é grande coisa

**** - Amei!

***** - AMEI E DAQUI UNS ANOS EU AINDA VOU LEMBRAR DO NOME E UM POUQUINHO DA HISTÓRIA! <3

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