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UM GOLE DO UNIVERSO

em crônicas

Em 2016 coloquei como uma das metas do ano "Aprender a fazer um bom nhoque", mas foi só no final de 2018 que finalmente fiz um nhoque com cara e sabor de nhoque. Um prato que eu pensei "Eu pagaria por isso em um restaurante. Não pagaria muito caro, mas pagaria". E considerando meus talentos gastronômicos, pra mim isso foi uma baita conquista, que só foi possível porque eu me empenhei muito mais do que nos anos anteriores. Em um mês eu fiz mais nhoques (e tentativas de nhoques) do que a soma de todas as tentativas dos dois anos anteriores. Eu aprendi empiricamente que a repetição constante é um importante hábito para aprendermos a fazer algo que exige técnica, tal como escrever... Que é uma das minhas metas de 2019 :)

Foto do escritorKaren Harumi

Bruna

Atualizado: 10 de fev. de 2021

"Como (achamos que) nos conhecemos"


A minha versão:


Eu achei que tinha tido uma ideia genial: um projeto em que eu escrevo como conheci alguém e esse alguém é convidado a escrever como me conheceu também. Fazemos isso sem ler o que o outro escreveu. Dois pontos de vista da “mesma” história. É, na verdade, um experimento. A inspiração veio da divertida experiência em escrever sobre como conheci a Elle e ler como a Elle me conheceu.

...Mas nessa minha primeira tentativa eu já estou questionando se realmente é uma boa ideia, porque eu descobri que escrever como eu conheci a Bruna, a primeira convidada do projeto, é mais difícil do que descrever o último sonho que eu tive!


E pensa que no meu último sonho eu estava vendo um filme do Heath Ledger conversando com uma samambaia.

A questão é que eu ouvi falar muito da Bruna antes de vê-la ao vivo ou antes de conhecê-la – que foram dois momentos distintos. É tanta informação que eu me confundo com a ordem das situações e os diálogos que eu sei que existiram, mas que eu não lembro direito quem, porquê, nem como disseram.


No ápice da nossa pré-adolescência vivemos um rolê bem Malhação.

Antes mesmo de nos vermos pela primeira vez, algumas pessoas já haviam comentado comigo que ela me odiava. Vieram me contar que eu era a menina que o menino que ela gostava, gostava. Espera. Deve ter um jeito melhor de explicar isso: diziam que ela gostava de um menino que diziam que gostava de mim.

O abençoado, sem necessidade nenhuma, se gabava de tempos em tempos que tinha uma menina que não largava do seu pé e que ele não tinha interesse nenhum, muito porém só falasse dela. A Bruna.

Eu morria de vontade de encontrá-la pra berrar “Pára agora de gostar desse menino! Não importa quão chata você possa ser, você ainda é muito legal pra ele.”

Lembro também de um dia que fui jogar video-game com uma galera na casa do ex-paquerinha da Bruna. Fui crente que ia jogar Mortal Kombat e passei o dia ouvindo fofoca. Partida sim, partida não o nome dela pipocava. Eu não entendia metade da história, era gente que eu tinha acabado de conhecer falando de gente que eu nem conhecia.


Dado aos boatos de que ela não era das mais elogiosas sobre mim, as pessoas pressupunham que o desafeto era recíproco, e eu quase aceitei esse sentimento.


Até chegar o dia da Festa Junina do Objetivo, o colégio que eu estudava – e que eu não lembro se ela já estudava também, mas acho que não.


Com 32% de certeza, essa foi a primeira vez que realmente conversamos. É o dia em que considero que a conheci. Já havíamos conversado de maneira distante uma ou outra vez sempre com outras pessoas por perto, mas nunca só nós duas.


Ela estava sentada na arquibancada da quadra, ao lado do Gabriel, que também viria a ser muito meu amigo, mas até então era só um conhecido, como ela. Ele se levantou por alguma razão e ela ficou lá, sozinha.


Chamei ela na chincha.

Apesar de insegura, eu estava decidida a dar uma bela lição de moral.

Lógico que se eu não lembro nem em que lugar eu a vi pela primeira vez, lembro ainda menos das palavras que usei no momento – PORÉM EU LEMBRO DA SENSAÇÃO: a de me sentir completamente ridícula tentando explicar porque não tinha sentido ela me odiar.


Por que eu me importava tanto com a opinião de alguém que eu mal falava?

Será que eu já a amava e não sabia?

Será que eu sabia que iria amá-la?


Não falei tão firme quanto eu queria, na verdade foi muito parecido com a sensação de se declarar pra alguém. De se colocar em uma posição vulnerável, em que você não sabe como será a reação da outra pessoa, mas que você espera que pelo menos ela não dê risada das palavras trocadas que você começa a dizer sem querer.

Com todo o meu nervosismo, acabei não conseguindo fazer um discurso com a moral toda que eu achava ter. A verdade é que eu não tinha lição nenhuma pra ensiná-la, mas eu tinha uma bem boa pra aprender: as pessoas mentem.


E no final ela me explicou que nunca me odiou e nem via motivo pra isso, mesmo se eu gostasse do abençoado. O que eventualmente descobrimos que nenhuma de nós duas gostava. Esse desgosto inclusive nos uniu bastante. Foi bom conversarmos. Era muito telefone sem fio. Eu não havia sido muito esperta em imaginar que a mesma criatividade que haviam usado para criar palavras por ela, também haviam usado para criar palavras por mim.

Fomos sinceras, mutuamente afáveis, sensíveis, compreensíveis e acolhedoras - inclusive deve ter sido o único dia em toda a nossa amizade.


Daí em diante, na minha cabeça, viramos amigas, porque não consigo imaginar porque em qualquer época da minha vida eu perderia mais um dia não tendo a amizade de alguém que eu já sei que a proximidade me fará melhor. Porém, talvez não tenha sido tão dinâmico assim. Porque nas minhas lembranças eu preciso encaixar o dia da estréia do filme O Senhor dos Anéis III - O Retorno do Rei no extinto cinema de Lorena, no final do ano de 2003 e que não bate em nada com o resto da cronologia dessa história que contei. Teoricamente o cinema foi depois da nossa conversa na Festa Junina do Objetivo, mas eu lembro de que no intervalo do filme, que por ser longo foi dividido em dois, e havia uma tensão entre nós, de sentir um leve medo da Bruna. Mas porque eu sentiria isso se já fôssemos amigas? APESAR DE QUE, pensando agora, às vezes eu ainda sinto isso, mesmo depois de quase 20 anos [BRINCADEIRA, por favor não me odeie DE NOVO].


E eu amo esse começo da nossa história [mesmo sem me lembrar muito bem].

Com a Bruna eu vivenciei a sororidade antes mesmo de saber que essa palavra existia.


Algumas pessoas queriam nos fazer acreditar que nos odiarmos era o caminho mais óbvio – que era perfeitamente normal termos uma rivalidade por causa de um menino. E mesmo que fosse o cara mais legal do mundo [não era] isso segue sendo um absurdo e eu tenho muito orgulho de como usamos a rinha de galo que nos jogaram pra combater essa visão arcaica da maneira mais debochada possível: nos tornando grandes amigas.

 

A versão dela:


Foi num verão lorenense que eu conheci a Karen pela primeira vez, perto do Natal, mais precisamente na estréia do filme Os Senhor dos Anéis 3 - O Retorno do Rei. Eu me lembro de vários flashes aleatórios desse dia, até porque eu sou uma pessoa com uma memória incrível pra fatos randômicos. Lembro da cena exata da janela do carro da minha mãe, passando em frente à Karen e o grupo de amigos dela. Eu acho que ela tava com uma blusa amarela, mas isso pode ser totalmente falso na minha mente. Pra mim estavam ela, a Vanessa e a Jaqueline. Eu conhecia a Jaque da internet, e se minha memória não me trair, arrisco em dizer que nós duas tinhamos duas paixões em comum: blogs e Ragnarok. Inclusive, quero dizer aqui meu muito obrigada pelos infinitos CD’s de instalação que ela preparou pra mim, pois minha internet era uma droga.


Enfim.


Voltando ao assunto do cinema, o grupo de amigos que eu acompanhava encontrou o grupo delas, e estávamos ali todos reunidos pra uma verdadeira maratona de filme. Confesso que depois disso, só me lembro da escada do antigo cinema de Lorena, toda vermelhona, aquela cortina e de o filme ter pausas, porque ninguém aguentava ficar 3 horas ininterruptas na frente de um filme tão lindo, porém tão denso. Sei que após o filme a gente trocou uma dúzia de palavras na Praça de Lorena. Mas não me lembro de mais nada!


Conhecer as meninas foi o começo de uma nova vida pra mim, realmente o início de uma bela história de amizade. A gente frequentou cursos de mangá todos os sábados que eram dados na casa da cultura. Fazíamos aquilo juntas, e apesar de estudarmos na mesma escola, a gente não estava na mesma sala.


Lembro que a primeira impressõa que eu tive da Karen era de que ela era metida, arrogante. Não demorou muito pra essa impressão passar, creio que foi no aniversário da Jaque que eu vi todas elas uma segunda vez (que eu acho que ela faz aniversário em março) e a gente pôde realmente se divertir. Gostar da Karen, da Vanessa, do Gabriel, da Jaque foi muito fácil pra mim, todo mundo gostava das mesmas coisas de nerd que eu gostava, desenhos japoneses, etc. Acho que foi por aí que a gente começou a fazer mais coisas juntas.


Eu contava os dias pra vê-las no sábado, junto com o Gabriel, que por ser mais velho que a gente e estudar em outra escola, era dificil de ver. Aliás, eu conheci o Gabriel bem antes das meninas, mas foi a partir da reunião de todas essas pessoas juntas que eu vivi os melhores e mais divertidos anos da minha adolescência. Tenho tantas lembranças!


Sei que eu passei mais tempo com a Karen nesses anos, porque íamos a pé para escola juntas (não sei bem em que ano do Ensino Médio ela começou a morar no bairro Industrial). Porém, eu não tenho como separar mais de uma história aqui. Tem o dia que a gente foi na festa junina da igreja dos tios dela; que a gente ficava fofocando na frente da escola porque chegávamos atrasadas e precisávamos esperar o segundo sinal; dos dias em que a gente dormia na aula ou lia Fruits Basket; da gente fazendo Kung-Fu e vendo um acidente ao vivo na estrada de Ubatuba; da Karen tropeçando 50000000000 vezes e dando tchau pro telefone quando falava com o pai dela; do dia que eu fiz xixi na cadeira da casa dela de tanto dar risada; do dia que eu organizei o quarto dela pra no dia seguinte estar tudo bagunçado de novo; dos eventos de anime; dos karaokês, MEU DEUS, será que o povo ficava rindo da gente cantando japonês?? Acho que sim…


E vocês lembram do dia que a gente conseguiu um lugar na fila pra ganhar o autógrafo que a Karen perdeu no ônibus depois? E dos infinitos dias onde íamos dançar pump na máquina do shopping e era suuuper legal e conhecemos mais gente?? As panqueca's party na casa do Gabriel?? O oniguiri horroroso que fizemos?? O dia em que fizemos uma história com fotos na casa da Jaque?? E os nossos bolos de cenoura totalmente crus? Nossas fofocas, até os dias que eu não fui foram divertidos e eu ri muito*! Lembram dos nossos vídeos sem noção na casa da Vanessa? (Viu gente, não tem como falar de uma só pessoa, todas as nossas memórias são coletivas!! — Aliás, a Vanessa estava no dia do xixi na calça hahahahahah)


Obrigada Karen (aliás, meu muito obrigada à todos os meus amigos que fizeram parte dessa época), não existem amigos como vocês no mundo, me desculpem por não saber descrever o exato momento onde nos conhecemos com detalhes, ou de como tudo evoluiu, mas guardo com carinho a memória de cada uma dessas pessoas incríveis que vocês são (calma, ninguém morreu, eu é que sou saudosista e dramática) no meu coração <3


Gente, será que era esse o objetivo do texto?





MEIO


(nada de FIM na nossa história)

Eu te amo, Bruna Gracinha, obrigada pela sua participação aqui <3




Se o Quino copiou a nossa amizade nos quadrinhos, nós podemos copiar o quadrinho dele!



 

*A Bruna não sabe muito bem o que ela quis dizer com essa frase.


**RETIFICAÇÃO: A primeira vez que vi a Bruna foi mesmo no cinema, na estréia do filme O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei. Todo o resto aconteceu depois.


***Se você se interessa pelo tema de como a nossa memória não funciona, indico o 1º episódio Memória da série "Explicando - A Mente", Memória [Memory, explained] na Netflix.

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