Há menos de uma semana eu estava caminhando na Avenida Paulista, saindo do SESC Paulista, indo para casa, quando olhei vindo na minha direção duas meninas animadas, uma delas acenando e falando algo como "Você por aqui! Quanto tempo!".
Na hora já pensei que deviam ser colegas da faculdade que eu não me lembrava. Eu fiz a graduação de maneira tão aérea que só anos depois eu vi a lacuna que isso criou na minha memória e, sempre que vejo alguém que parece me reconhecer na rua ou em algum evento, eu já no automático concluo que deve ser dessa época.
Então eu sorri :)
Ou achei que tinha sorrido...
Porque quando finalmente ficamos frente à frente, a menina que havia acenado chegou falando toda sorridente:
"Calma, calma, não precisa ficar tensa! Nós não nos conhecemos, eu só achei que ia ser divertido dar oi assim. Pode relaxar!" E logo em seguida explicou que elas faziam parte de um coletivo de meninas que escrevem poemas, o Lírica de Rua, e estavam ali na avenida buscando contribuição para o projeto que haviam começado de empreender. Elas desejavam publicar de maneira impressa e estavam nas ruas atrás de contribuição para concretizar este desejo.
Elas eram sorridentes, felizes e afáveis. Falavam tudo com empolgação e foi inevitável não me empolgar junto. Contei sobre a minha própria empreitada e sobre este blog, que na hora foi personagem e agora é a ferramenta que estou escrevendo sobre isso. Fazia tempo que eu não conhecia alguém bacana assim, pelo acaso, ainda mais DUAS pessoas! Eu estava com saudades disso!
Ainda troquei figurinha sobre teatro com a outra menina, atriz como eu, e que também me deixou, além de uma lembrança feliz, duas indicações de leitura de crônicas que fizeram meus olhos salivarem.
Achei irônico que pouquíssimos segundos antes de encontrá-las eu estava pensando no tempo que eu havia perdido indo ao SESC Paulista para realizar uma inscrição que descobri que só poderia ser feita pela internet. Inclusive eu ter ido ao SESC Paulista foi indicação de uma colega de faculdade que eu havia reencontrado (sem reconhecer) dias antes. Eu estava cansada, já havia passado o resto do dia resolvendo pendências, estava com fome e estava indisposta a ficar animada. No entanto, lá estava eu sorrindo, lembrando que nenhum momento vivido é desperdiçado, chegando à conclusão, mais uma vez, que tudo tem que ser exatamente como é.
Eu não esperava muito daquele dia, era pra ser um dia comum em que eu faria tudo como planejado de maneira responsável (o que, na verdade, já não é muito comum pra mim), mas foi um dia ainda mais cotidiano do que eu esperava exatamente por não ter sido igual à nenhum outro, foi um dia em que fiz o que faço de melhor: vivenciar o prazer de conhecer novas pessoas e aprender e ser lembrada das várias formas que um dia pode ser incrível. De repente eu detinha o conhecimento de que por mais caótico que uma cena possa estar, há uma certa paz em apenas olhar nos olhos de alguém que lhe oferece atenção. E eu olhei muito nos olhos delas, principalmente porque eu queria me lembrar o máximo possível daquela sensação.
Infelizmente os nomes não fazem parte do que eu me lembro...
E depois de escrever tudo isso aqui eu fui ler o folheto que elas me entregaram, com o contato do coletivo e alguns poemas. Não o fiz antes porque não queria que isso de alguma forma afetasse o registro da lembrança do momento, eu já me conheço um pouco e sei que eu faço essas conexões malucas em coisas que na maioria dos pontos de vista não possuem ligação alguma...
...Mas olha só que interessante estes versos que encontrei no poema "Arte", por Dindi:
Em um suspiro a arte
Traduz a vida
É como se meus pés saltassem do chão
E um ímpeto de carisma, sequestrasse o meu sorriso
Para além do olhar
Um misto de percepção, emoção e pensamento*
[...]
Naquele dia, juntas, fizemos arte e ainda nem tínhamos percebido.
Banana está apreciando do seu modo os poemas das meninas do Lírica de Rua
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