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UM GOLE DO UNIVERSO

em crônicas

Em 2016 coloquei como uma das metas do ano "Aprender a fazer um bom nhoque", mas foi só no final de 2018 que finalmente fiz um nhoque com cara e sabor de nhoque. Um prato que eu pensei "Eu pagaria por isso em um restaurante. Não pagaria muito caro, mas pagaria". E considerando meus talentos gastronômicos, pra mim isso foi uma baita conquista, que só foi possível porque eu me empenhei muito mais do que nos anos anteriores. Em um mês eu fiz mais nhoques (e tentativas de nhoques) do que a soma de todas as tentativas dos dois anos anteriores. Eu aprendi empiricamente que a repetição constante é um importante hábito para aprendermos a fazer algo que exige técnica, tal como escrever... Que é uma das minhas metas de 2019 :)

  • Foto do escritorKaren Harumi

5º Vestido

Atualizado: 14 de nov. de 2019


(continuação da crônica 4º Vestido)



Em 2017 eu tinha passado metade da minha vida sem conhecer o Gabriel e a outra metade tendo ele como um dos meus melhores amigos, achei bem bacana ele se casar bem nesse ano e eu poder estar lá pra prestigiar como madrinha.


Ele é uma pessoa que às vezes eu me pergunto se não é algum experimento tecnológico avançado disfarçado de pessoa que estava infiltrado na sociedade lorenense. Eu nunca o vi muito triste, bravo, raivoso, amedrontado, amargo, azedo, descontente, desagradável, reclamão, sem noção, com dor de barriga ou trançando as pernas depois de beber.


E não é que ele nunca tenha passado por nenhum pepino, a vida é com ele como é para todos, no entanto eu vivo esquecendo de várias situações da sua vida, porque ele é a cara da plenitude. Ele sempre está sorrindo e faz a vida parecer muito serena. De uma maneira desumana, ele está sempre cheio de energias boas e piadas ácidas excelentes, além de ser muito inteligente e ter uma memória bem boa para informações aleatórias. Não teve um dia na minha vida que eu tenha visto o Gabriel e não tenha dado pelo menos uma gargalhada de arfar o ar.


Quando eu ainda nem era adolescente eu passava em frente a casa dele, um casão arborizado com cara de mal-assombrado, e me perguntava que tipo de pessoa tinha coragem de morar ali. Levei muitos sustos por lá antes de conhecê-lo e mais ainda depois que o conheci. Nunca vou esquecer de quando eu quase chorei vendo o vulto do jardineiro na janela ou quando eu me perdi para encontrar o sótão (coisa que para mim só existia nas casas dos filmes americanos)...


E foi perdida no meio das árvores macabras do jardim da casa dele, angustiada com o farfalhar das folhas e o canto de pássaros que eu não enxergava, então eu imaginava que fossem corvos, que ouvi pela primeira vez uma voz que trouxe luz na escuridão:


"Você precisa de ajuda?"


Até hoje eu suspiro lembrando...

Ai ai...


Quando a porta abriu e a iluminação da sala contornou o corpo que produzia aquele som dos céus de maneira tão majestosa eu sabia que aquele seria um momento inesquecível. Por 3 segundos eu vivi meu próprio romance gótico, com cenário e efeitos sonoros de porta rangindo.


A voz vinha de um amigo do Gabriel. Um menino meio mirrado, todo fofo, educado, cheiroso, arrumado, gentil e que era pior do que eu no Twister: o cara perfeito. Ele tinha o nível certo de rabugentisse e silêncio para equilibrar com o meu excesso de ânimo e assuntos aleatórios. O apelido dele na época era "amor da minha vida" (pelo menos era assim que eu o chamava) e como eu nunca fui boa flertando, eu nem tentava, o que ajudou muito alimentar esse romance no meu coração por eras mesmo só encontrando o Amor da Minha Vida uma vez por ano no aniversário do Gabriel.


No auge dos meus 15 anos eu disse despretensiosamente que um dia o levaria pro altar, falei por falar, mas depois que eu digo algo eu me sinto um tanto na obrigação de cumprir. Ninguém botava fé nessa minha promessa, sendo bem sincera, nem eu.


...Principalmente porque tempos depois eu descobri que éramos tão iguais que tínhamos até os mesmos gostos...


...Por pessoas.


O Amor da Minha Vida trocou o meu amor platônico (que ele nem sabia que eu sentia) por um cara que eu tenho certeza que jamais admirou o cabelo dele tanto quanto eu. Mas as vantagens do amor platônico é que ele não se abala só porque a outra pessoa está super feliz com a vida, seguindo em frente sem você. E muitos podem achar que a nossa história de amor acabou por aí, lá pra 2000 e bolinha... Mas o fim de 2017 veio com boas notícias para amenizar os perrengues do restante do meu ano. Outubro veio com mensagens de esperança e fé em um ano que até então eu não via a hora de acabar:


Gabriel ia se casar e como se isso não fosse incrível por si só, ele, bom amigo como sempre foi, tornou o sonho da Karen de 15 anos em realidade: levei o Amor da Minha Vida para o altar!


E tal ocasião exigiu um traje à altura. Lembro do Gabriel sendo extremamente enfático ao me informar as exigências do vestuário para a celebração:


"VISTA ALGO QUE VOCÊ SE SINTA MARAVILHOSA PRA REGISTRAR ESSE MOMENTO E DEPOIS ESFREGAR AS FOTOS NA CARA DAS PESSOAS QUE DUVIDARAM DE VOCÊ."


Eu obedeci.

Eu esfrego essas fotos na minha cara até hoje.


E além do vestido ser lindo, simples, sem muita firula, segurar o meu busto no lugar de alguma forma mágica mesmo sendo de um ombro só e ser feito com um tecido chumbo maravilhoso com um brilho sutil dourado que me fazia sentir meio Xena, a princesa guerreira, preparada para o combate se o casamento fosse invadido... AINDA FOI UMA BAGATELA.


O vestido foi mais barato que a última havaianas que comprei!


SÉRIO.


Até hoje eu não entendi direito, inclusive, na mesma loja tinha uma regata xexelenta que custava 2x o valor do vestido, mas gosto de pensar que esse achado foi fruto do meu planejamento e das minhas boas decisões, pesquisando preços e tendo uma visão mais clara do que eu desejava encontrar.


Para o casamento do Gabriel eu me organizei com antecedência porque estava traumatizada com a minha falta de planejamento no casamento do Coxinha um ano antes, no entanto nada poderia ter me preparado para quando o Amor da Minha Vida me ofereceu o seu paletó para me cobrir porque estava frio e chuviscando enquanto aguardávamos para entrar na capela... Foi bem fofo! Eu estava muito donzela, realmente preciso escrever um romance gótico sobre esse dia.


Mais gentil comigo naquela noite do que o Amor da Minha Vida, só o tempo.

Isso pode soar estranho, mas o tempo me rejuvenesceu.


...Depois de adulta os amores platônicos não me apetecem mais, odeio guardar sentimentos em mim, mas foi legal lembrar de como era quando eu gostava de alguém, não porque eu esperava reciprocidade, mas só porque eu ficava feliz de existir alguém tão gentil despretensiosamente. Tem certas coisas que nunca deveríamos esquecer, mas que às vezes precisamos do tempo (e um bom vestido sem manga comprado com planejamento e usado num dia chuvoso) para lembrar.


A Karen de 15 anos ia ficar muito feliz em saber que um dia ela seria a Karen de 28 anos



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[ADENDO:

Muito muito muito obrigada Gabriel e Fer por me darem mais esperança sobre o amor, por me ajudarem a quebrar padrões românticos na minha cabeça, por rirem comigo do passado e por me permitirem viver a minha mini-história-platônica-de-amor-adolescente com vocês!


E mais memorável ainda:

Obrigada pela oportunidade de dançar ao lado da Carreta Furacão!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!]

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