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UM GOLE DO UNIVERSO

em crônicas

Em 2016 coloquei como uma das metas do ano "Aprender a fazer um bom nhoque", mas foi só no final de 2018 que finalmente fiz um nhoque com cara e sabor de nhoque. Um prato que eu pensei "Eu pagaria por isso em um restaurante. Não pagaria muito caro, mas pagaria". E considerando meus talentos gastronômicos, pra mim isso foi uma baita conquista, que só foi possível porque eu me empenhei muito mais do que nos anos anteriores. Em um mês eu fiz mais nhoques (e tentativas de nhoques) do que a soma de todas as tentativas dos dois anos anteriores. Eu aprendi empiricamente que a repetição constante é um importante hábito para aprendermos a fazer algo que exige técnica, tal como escrever... Que é uma das minhas metas de 2019 :)

Foto do escritorKaren Harumi

Ops

Atualizado: 20 de set. de 2019

Antes de ontem, lá estava eu pegando um ônibus para almoçar com o André e tudo indicava que seria mais uma caminhada comum, na qual eu vejo muitas pessoas, muitas pessoas me veem, mas não nos marcamos e assim que descemos no ponto de ônibus já não nos lembramos mais de nenhuma feição.


Eu tenho um lado sedentário que sempre me faz querer sentar quando vejo um lugar disponível. O ônibus encheu, mas ainda havia um assento preferencial livre, sentei - cedi - sentei de novo e um menino de uns 8 anos veio saltitando pela guia para entrar no ônibus e tão logo vi que ele não tinha o antebraço eu me levantei e então ele se sentou.


Sorri no automático, não lembro o porquê em específico. Acho que eu estava feliz por que ia encher a pança de cogumelos e sashimis e então ele sorriu de volta e falou "Cabelo legal".


Eu estava de fone, mas consegui escutar, tirei o fone e agradeci e então ele falou "Minha irmã também gosta de pintar o cabelo dessas cores legais".


"É mesmo? E que cor está agora??" Perguntei


"Ela não pinta mais de roxo, agora tá rosa!" E disso, em algum momento ele soltou um "...Eu gosto de jogar Call of Duty".


Call of Duty! Eu gosto de Call of Duty! Ele era tão empolgado e calmo ao mesmo tempo, parecia mesmo feliz. Confesso que não acompanhei o raciocínio dele e não sei mesmo como chegamos neste assunto, nem mesmo em todos os outros que conversamos, mas sei que ele foi certeiro nos tópicos escolhidos e me cativou muito! Tanto que até pensei "Ah que droga, logo vou ter que descer" - e não é algo que eu geralmente penso quando estou em pé em um ônibus cheio.


Ele me ensinou a passar as fases em que eu empacava do jogo Call of Duty: Modern Warfare 2 (que era o favorito dele), estratégias para sobreviver dos ataques zumbis no Call of Duty: Black Ops 2 (que é o meu favorito), a matar juggernauts com lança-míssel e bazucas e me informou (em tom de segredo) que o "Bancroft" não era o general e que ele me traiu logo no início do jogo porque ele tinha um bigode ou algo assim. Ele falou como se fosse uma informação tão importante que mesmo eu não sacando muito bem a reviravolta dessa revelação, meu cérebro achou importante armazenar na minha memória.


Quando eu disse que precisava descer senão eu perderia o ponto e saí correndo pra porta, ele se pendurou naquelas fitas que ficam nos suportes de ferro para as pessoas se segurarem, e em um pulo estava no chão, a senhora que o acompanhava (e ficou em silêncio durante todo o momento) até o segurou com medo que ele se desequilibrasse, mas ele era bem ágil; pendurado dava para notar que ele tinha toda um malemolência de Tarzan urbano. E foi só descendo do ônibus, vendo ele em pé sem nenhum motivo aparente, que, "Ops!", notei que talvez ele estivesse indo me abraçar... Mas a porta já havia fechado comigo do lado de fora, só acenando, brava por eu não ter sido mais observadora e recíproca.


Nossa interação não deve ter durado mais que dez minutos, mas além de me ensinar a matar zumbis, ele me fez refletir por todo almoço em como as pessoas podem ser incríveis com tão pouco. Eu realmente aprecio a interação despretensiosa que podemos ter, simplesmente porque a outra pessoa parece bacana e deu vontade de conversar.


A maioria das conversas que tive em ônibus com desconhecidos era para falar mal das baratas, fazer careta pelos apertos, falar do trânsito e reclamações no geral - que parece ser infalível para puxar um assunto. Afinal todos reclamam, não é? Não tem como errar!


Eu estava tão acostumada a ter receio das pessoas, assaltos, sequestros, palavras desrespeitosas e grosseiras, vi tantas caras feias por aí que me tornei profissional em reproduzi-las; mas sorrir, por não mais que uns 5 segundos, foi o suficiente pra me lembrar de reproduzir as coisas bonitas e boas também. Uma pessoa bacana pode deixar um dia inteiro bacana.


Vou praticar mais o elogio e a conversa despretensiosa, principalmente com os desconhecidos, quem sabe fará bem para elas como fez para mim?


...Começando hoje.



[originalmente publicado em 11 de outubro de 2012 no meu extinto blog

"Eu ainda estava morta..."]



Foto tirada às 5 a.m. no Terminal de Ônibus de Santo Amaro das pessoas fazendo baldeação pra pegar o trem. Eu to ali no canto, de roupa azul, tentando subir nele, por sinal.

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