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UM GOLE DO UNIVERSO

em crônicas

Em 2016 coloquei como uma das metas do ano "Aprender a fazer um bom nhoque", mas foi só no final de 2018 que finalmente fiz um nhoque com cara e sabor de nhoque. Um prato que eu pensei "Eu pagaria por isso em um restaurante. Não pagaria muito caro, mas pagaria". E considerando meus talentos gastronômicos, pra mim isso foi uma baita conquista, que só foi possível porque eu me empenhei muito mais do que nos anos anteriores. Em um mês eu fiz mais nhoques (e tentativas de nhoques) do que a soma de todas as tentativas dos dois anos anteriores. Eu aprendi empiricamente que a repetição constante é um importante hábito para aprendermos a fazer algo que exige técnica, tal como escrever... Que é uma das minhas metas de 2019 :)

  • Foto do escritorKaren Harumi

O mistério do ceviche de Natal

Atualizado: 20 de set. de 2019


[2º dia]


Estou me sentindo fortemente influenciada pelos filmes natalinos da Netflix que a minha irmã mais velha (isso mesmo, mais velha) me fez assistir durante TODO o mês de dezembro e vim contar aqui a minha própria história mágica de natal!


Eu juro que não queria ceder para a lavagem cerebral temporal ilusória que esses filmes natalinos fazem nas pessoas (mentira, eu já era assim antes de fazer companhia na maratona da minha irmã, é só que eu tenho vergonha de assumir que nasci desconfigurada), mas é sério...


A magia do Natal é real.


Na semana passada fiquei encarregada de cozinhar as carnes da Ceia de Natal e lá estava eu no dia 24 de dezembro com meu avental de kilt (a principal razão para eu começar a cozinhar, já que na maioria das vezes eu cozinho só para poder usá-lo), temperando o peru e tentando adivinhar quantos kilos aquilo tinha para saber quanto tempo deveria deixar no forno.


Essa adivinhação foi realizada no chutômetro e na fé que se eu desejasse um peru bem assado por dentro e por fora, aquele forno faria a mágica acontecer. Ao meu lado a minha mãe fazia os doces e me ouvia reclamar que as instruções da receita do Peru de Natal não eram muito precisas, mas eu tinha fé, muita fé, um pouco de ansiedade também, mas foquei na fé e taquei o peru no forno, sempre vigiando pra ver se ele não sairia dali cru por dentro e torrado por fora, com a consciência que a revelação só seria feita na hora da Ceia. Cada vez que eu tirava o peru para regá-lo com tempero eu me sentia assistindo o programa do João Kléber, um suspense desnecessário.


E é nesse cenário que me peguei salivando na ideia de uma Ceia com um cardápio mais Karenístico: seria a maior festa das comidas cruas, seria controverso, mas não teria ansiedade, só tartar, kibe cru, sashimi, carpaccio, ceviche...


Um sonho.


Ia ter tartar de carne com pãezinhos australianos tostados e batatas fritas. Bem apimentadinho, com uma gema lustrosa e curada em cima... Hmm... Nem comecei a descrever e já estou salivando! O kibe cru estaria cheio de creme azedo e cebolas bem picadinhas, azeite trufado e 1 bilhão de folhas de hortelã bem limpinhas. Sashimis de polvo, camarão, vieira, salmão, atum e o polêmico peixe prego. Delicinha. Com wasabi e shoyu em quantidades precisas para enaltecer a simplicidade dos peixes fatiados na espessura exata de meio dedinho... Ai ai... Aí nas pontas da mesa teriam travessas cheias de carpaccio de filé mignon bem gelado com os mais variados temperos: na ponta da esquerda, lascas de parmesão, rúcula e azeite... Na ponta da direita, pesto de azeitonas... No centro, tabasco com conhaque e pimenta... Nossa... Como eu queria ser capaz de cozinhar tudo o que eu imagino! E por fim ceviche, ce-vi-che, CEVICHE, CEVITCHÊ E CEVICHEEEEEE.... 5 bowls em cima de chapas de gelo com os mais variados tipos de ceviche! COM TODOS OS FRUTOS DO MAR. Ceviche clássico, ceviche moderno, ceviche que-deu-errado-mas-que-no-final-ficou-bom (porque nunca comi um ceviche ruim, mesmos os que não deram certo), cheios de choclo... Milho em todas as suas formas! Abarrotado de pimenta biquinho (gosto bem mais do que a dedo de moça) e COEEEEENTRO. Eu trocaria toda a polêmica da uva-passa no Natal lá em casa por discussões sobre o coentro... Tal qual a uva-passa, teria coentro no prato principal, na guarnição, na sobremesa e até no café da manhã do dia seguinte!! Eu consigo até imaginar as brigas... Um sonho.


Foi quando o interfone tocou, minha mãe atendeu e se virou para mim e o peru:


"Você está esperando alguma encomenda?"


"Não que eu me lembre."


"Tem uma entrega lá na portaria, vou lá ver o que é."


Poucos segundos depois o interfone tocou novamente e dessa vez eu atendi:


"Oi! Sou eu de novo, o porteiro! O entregador aqui disse que é para entregar para a Karen ou tia Rosângela, acho que é um presente. Tá escrito aqui ceee.. viii... chee..." O fato dele ler sílaba por sílaba, com incerteza, aumentou a tensão do momento.


TRAVEI.

PAPAI NOEL EXISTE.

E pelo jeito eu tinha sido uma boa menina!


Teria a força do meu pensamento materializado o ceviche?


MILAGRE DE NATAL!


Fiquei tão feliiiz!!!



...mas também fiquei meio apavorada...


Da onde é que saiu esse ceviche?

Quem é que iria nos presentear com CEVICHE??


(TÃ TÃ TÃ)


Eu já me acostumei com o Facebook e o Instagram fazendo propaganda das coisas que falo perto do celular. Mas a NSA*estaria assim tão generosa? Teria o marketing avançado a ponto de materializar nossos pensamentos? TERIA O GOOGLE FEITO O PEDIDO NO IFOOD POR MIM?!

Já estava me preparando para colocar meu depoimento com teorias da conspiração sobre espionagem no Reddit quando o porteiro que estava conversando com o entregador voltou na linha do interfone...


"...tem alguma Vanessa morando com vocês? A encomenda parece que está no nome dela, vou deixar aqui com a sua mãe que acabou de chegar, tudo bem?"


MEU DEUS.

Papai Noel existe...

E É MINHA AMIGA DESDE 2003!

(Eu quis fazer essa piada em voz alta na hora,

mas não tinha ninguém para ouvir, então guardei para dizer depois, perdão)


Mas ufa.

Era só a Vanessa...


E tão logo minha mãe subiu, com aquela fartura de peixes e leite de tigre toda na mão e uma nota fiscal de zilhares de reais grampeado, caiu a minha ficha. Eu fui atrás do celular para falar com a Vanessa e lá estava a mensagem que solucionava o mistério do ceviche de Natal:


"Kareeeeen... Mandei comida do Ifood pra sua casa, agora você já tem Ceia de Natal! Eu não troquei o endereço e ficou salvo o último usado."


Tive que dizer à ela que foi uma surpresa muito bem-vinda e uma coincidência bem posicionada pelo destino. Ao que ela respondeu comprovando todas as minhas suspeitas:


"...Eu sempre confiro o endereço de entrega, porque tá registrado o endereço do trabalho, essa foi a única vez que esqueci. Foi destino mesmo, daquelas mágicas de Natal!"






*National Security Agency (Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos)

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