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UM GOLE DO UNIVERSO

em crônicas

Em 2016 coloquei como uma das metas do ano "Aprender a fazer um bom nhoque", mas foi só no final de 2018 que finalmente fiz um nhoque com cara e sabor de nhoque. Um prato que eu pensei "Eu pagaria por isso em um restaurante. Não pagaria muito caro, mas pagaria". E considerando meus talentos gastronômicos, pra mim isso foi uma baita conquista, que só foi possível porque eu me empenhei muito mais do que nos anos anteriores. Em um mês eu fiz mais nhoques (e tentativas de nhoques) do que a soma de todas as tentativas dos dois anos anteriores. Eu aprendi empiricamente que a repetição constante é um importante hábito para aprendermos a fazer algo que exige técnica, tal como escrever... Que é uma das minhas metas de 2019 :)

  • Foto do escritorKaren Harumi

Revelação

Atualizado: 21 de set. de 2019

Hoje acordei triste.


Por uma única razão: não há sol lá fora.


Não aconteceu nada, ninguém ainda tinha acordado quando percebi que não ia ter sol hoje. Minhas gatinhas estavam dormindo fofinhamente em cima de mim, comi uma batata com queijo na janta de ontem que estava divina e ainda vi um bom filme nessa madrugada. Era na verdade pra eu estar feliz, mas não ter sol sempre me deixa assim, um pouco brucuxu.


E então, coincidentemente ou não, ao ler uma mensagem escrita errada eu me questionei sobre isso.


Conversando com um colega de trabalho [da qual eu nunca trabalhei junto, mas eu também nunca soube muito bem como definir a nossa relação, e atualmente ela se parece muito com as que eu tenho com colegas de trabalho, e por isso o chamo assim] sobre a viagem que ele havia feito para o outro lado do mundo, eu perguntei porque a sua viagem havia sido tão incrível (ele havia dito que tinha sido incrível), se ele havia tido alguma Revelação do Segredo do Universo. Porque sempre que alguém vai pra Ásia eu tenho a sensação de que ela vai voltar com essa informação. Inclusive fiz a mesma pergunta pra Bia Yumi quando ela foi ao Japão e infelizmente ela deu uma resposta muito parecida com a dele (mas escrita de maneira correta):


"Eu conheci lugares, pessoas e comidas fodas, mas tive uma revelação incrível do Universo... Porém percebi que não precisa de tudo isso pra considerar a experiência bem sucedida e feliz :)
Em outras palavras: acho que nunca descobriremos o segredo do Universo, na real. Melhor se conformar e baixar as expectativas hahaha"

A 1ª vez que eu li eu fiquei confusa, pois li exatamente como estava escrito. Ele teve ou não teve a Revelação do Universo? Eu tinha entendido que ele tinha, sim, tido a revelação do Universo, mas que percebeu que a viagem também teria sido feliz se ele não tivesse tido, porque saber o segredo do Universo não é o essencial.


Parecia profundo, mas eu reli, porque não batia com o resto do que ele escreveu.


Na 2ª vez que eu li, eu entendi o que depois ele explicou ser o correto.

Ele esqueceu de colocar a palavra "não" antes da palavra "tive" e o certo seria "mas não tive uma Revelação incrível do Universo...". E tudo bem, porque ele conheceu lugares, pessoas e comidas fodas que tornaram a viagem uma experiência feliz mesmo assim.


Como eu ainda não sabia que isso era o que ele desejava dizer, eu reli mais uma vez e tive uma 3ª interpretação, que foi a que me fez pensar sobre o sol. De alguma forma eu li que ele tinha conhecido lugares, pessoas e comidas fodas e teve a revelação de que não precisava de nada disso para a viagem ser feliz... Que a felicidade já estava dentro dele.


No final não era isso que ele queria ter dito e a revelação acabou sendo toda minha mesmo, aqui nos confins de Santo Amaro, quase tão longe quanto a Ásia, porém.


Apesar de eu ser dessas que sempre fala que os lugares, as pessoas e as comidas podem tornar qualquer experiência feliz, a 3ª interpretação me apetecia muito no dia de hoje. Um dia sem lugares, pessoas e comidas novas e boas, sem nem mesmo o sol. Um dia que eu tinha declarado ser triste pela falta de tudo isso.


O QUE ME LEVOU A PENSAR QUÊ:


E se todo esse tempo eu estive depositando a minha felicidade em coisas externas, completamente não controladas por mim?


Deixa eu ver se eu consigo me explicar direito:


Faz muito tempo que comecei a me libertar de várias necessidades materiais, não consegui me libertar de todas, mas fiz progressos incríveis. Por exemplo, chinelos: eu só compro novos quando realmente arrebentam e não dá mais jeito de consertar nem com cola, nem fita, nem prego, nem nada. Eu decidi ser aquelas pessoas que ficam felizes por coisas pequenas, que repara nos detalhes, que se comunica, que se encanta com companhias sinceras, que se anima só por sentir o calor do sol no meu rosto e que fecha os olhos quando ouve o som dos passarinhos. Não é todo dia que rola ficar olhando uma flor desabrochar e ficar encantada com isso, mas algumas vezes eu conseguia.


No entanto eu acabei de perceber que a diferença entre eu e a minha antiga versão são as coisas externas em que depositei a minha alegria. Dá pra entender? Ao invés de mudar os meus conceitos eu só os adaptei para uma versão menos consumista.


Antes as coisas externas que eu depositava a minha alegria eram coisas que se podiam comprar. Comidas, roupas, sapatos, mochilas, ímas, legos (como o meu estimado chaveiro do Batman e do Buzz Lightyear em formato de lego). Eu também comprava livros à rodo, livros que nem sempre eu lia e acabava dando de presente pra alguém e pagando de gente fina que dá presente personalizado (eu sempre falava "Achei a sua cara" e era verdade, mas eu também podia dizer "Não me lembrei de comprar outra coisa" e também seria verdade).


Já agora as coisas externas que eu deposito a minha alegria são coisas que são impossíveis de comprar. O Sol, meus familiares, amigos, pessoas novas! É o ronronar das minhas gatinhas, é entrar no mar, é cruzar com gaivotas no caminho, é ouvir histórias, é viver histórias, é sentir o gosto de um bom nhoque feito por mim... E me parecia tão certo e bonito tudo isso. Mas tudo isso ainda são coisas externas.


...E isso já não me parece tão certo nem bonito assim.


Em dias como hoje, que acabo a maior parte do tempo dentro de casa, sem nada muito novo acontecendo, sem conhecer lugares, pessoas e comidas, eu me sentia quase que na obrigação de me sentir triste. E agora eu vejo que está no fato de eu colocar a minha alegria em tudo o que não depende de mim. Em colocar a minha alegria em algo que eu inclusive sei não ser constante nem permanente: relações, a aparição do sol, minhas gatinhas de bom humor.


Eu tive vários dias extremamente felizes, mas sempre que vou pensar especificamente em um, o primeiro que eu lembro é de quando eu tinha uns 13 ou 14 anos. Eu morava lá em Lorena em uma rua cheia de vizinhos incríveis, éramos dezenas de crianças e adolescentes, vivi alguns dos meus melhores dias naquela rua; brincando, caindo, analisando as pessoas até elas ficarem com raiva, dormindo sem querer na calçada.


Neste dia feliz eu não estava com vontade de sair na rua e nem de ficar no MSN, que era o que eu fazia no meu tempo livre naquela época. Era um domingo e logo de manhãzinha eu fui para o quintal da minha casa e me sentei no mato com a nossa cachorrinha, a Branquinha, no colo. Era mato mesmo, não era grama, tinha até uns tomates perto da onde eu havia me sentado. Lá estava batendo o sol e eu fiquei UM DIA INTEIRO SÓ NISSO. Sério. Parece tão pouco né?


Mas é bem isso mesmo, não precisamos de muito para ficar feliz. Só de uma mente em paz com si mesma. Lembro da sensação de calma e sempre associei aquela alegria com o calor do sol e a companhia da Branquinha, mas houveram dias igualmente ensolarados com a presença da Branquinha (e outros animais) que não foram tão felizes quanto aquele. A verdade é que a felicidade estava mesmo em mim.


Torrei, torrei, torrei e foi só quando não havia mais sol que eu decidi me levantar para comer algo. Comi e ainda voltei para ficar olhando as estrelas por um tempo, mas isso não durou muita coisa, porque fiquei com sono bem rápido. MAS AÍ QUE TÁ: Eu passei quase 15h sentada apreciando... Sei lá, eu mesma!


Eu tento lembrar o que eu estava pensando, mas não consigo.


O que eu sei é que registrei isso como uma memória feliz.


Não teve lugares novos, mal teve pessoas e comida nesse dia, a única coisa que teve e precisava ter, era eu disposta a estar feliz. Isso está longe de ser a Revelação do Segredo do Universo, mas foi uma revelação muito conveniente para o dia de hoje: sem sol não vai ser tão fácil ficar animada e feliz, mas ao menos não é impossível.



Eu juro que se eu soubesse o segredo do Universo eu contaria, mas por enquanto teremos que nos contentar com a informação de que a felicidade está dentro de você


(informação que você também poderia ter adquirido em vários livros de auto-ajuda

com mais explicação científica e frases motivadoras ou em GIFs de Whatsapp)



ADENDO:

Segue abaixo a imagem que a minha mãe enviou no grupo da família dia 19.02.19. o mundo não é cósmico? Desde então eu vi mensagens semelhantes em pichação no muro quando eu tentava não dormir dentro de um ônibus, no Instagram do padre Fábio de Melo, no Twitter do Dalai Lama e até num palito de sorvete na rua que eu tive nojo de tirar foto do cenário (principalmente porque eu estava com meu chefe e preferi manter a imagem de uma pessoa normal naquele momento). Então aqui está uma das provas que o Universo está reforçando meu novo aprendizado:


Ignore a parte do café, se quiser, mas realmente, acordar e pentear o cabelo costuma ajudar


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