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UM GOLE DO UNIVERSO

em crônicas

Em 2016 coloquei como uma das metas do ano "Aprender a fazer um bom nhoque", mas foi só no final de 2018 que finalmente fiz um nhoque com cara e sabor de nhoque. Um prato que eu pensei "Eu pagaria por isso em um restaurante. Não pagaria muito caro, mas pagaria". E considerando meus talentos gastronômicos, pra mim isso foi uma baita conquista, que só foi possível porque eu me empenhei muito mais do que nos anos anteriores. Em um mês eu fiz mais nhoques (e tentativas de nhoques) do que a soma de todas as tentativas dos dois anos anteriores. Eu aprendi empiricamente que a repetição constante é um importante hábito para aprendermos a fazer algo que exige técnica, tal como escrever... Que é uma das minhas metas de 2019 :)

  • Foto do escritorKaren Harumi

Sinal (Cataratas Argentinas)

Atualizado: 22 de jan. de 2022

Pra variar, lá estava eu viajando de novo. A trabalho, claro. O mesmo de sempre. Pesquisa pro Ministério do Turismo, dessa vez na fronteira de Foz do Iguaçu, no sul do Brasil, com a Argentina.


Foz do Iguaçu é fronteira também com o Paraguai. Lembro que na época, quando eu e a minha colega de São Paulo fomos definir quem de nós trabalharia em qual ponte, a Ponte da Amizade que liga o Brasil com o Paraguai e todas as coisas legais pra se comprar no mundo OU a "outra ponte", que ninguém sabia o nome (é da Fraternidade), que liga o Brasil e a Argentina, e que diziam que só servia de passagem para os argentinos entrarem no Brasil pra então irem pro Paraguai - eu pensei que era melhor mesmo ficar do lado Argentino, longe de tudo, porque se eu fosse pro lado do Paraguai eu ia voltar com mais dívidas do que as que eu pretendia pagar trabalhando lá.


Foi uma das minhas melhores decisões (muito porém o motivo não tenha sido honrado porque acabei voltando com dívidas do Paraguai mesmo assim). Os pesquisadores eram excelentes, divertidos, bons seres humanos com quem aprendi muitas coisas, não julgavam uma fofoca... Foi incrível. De ruim só os borrachudos, em que me lembro de um deles educadamente me esperar passar o repelente pra 1 segundo depois pousar no meu braço e picar - foi tão ousado e inacreditável que olhei a cena toda sem reação imediata, mas com muito pus depois.


Éramos em quatro pessoas: eu, vinda de São Paulo, a Mica e a Mel, argentinas que estudavam ali em Foz e o Leandro de lá mesmo. Havíamos acabado de nos conhecer, mas nos demos tão bem que logo nos primeiros dias já comemoramos o aniversário da Mica com os bolos que levei do café da manhã do hostel em que me hospedei. Trocamos indicações de livros, dicas culinárias e tudo seguia bem pacato e organizado. Pouco volume de trabalho, pé de pitanga perto do nosso posto.


Outro interesse que eu tinha em conhecer e estar mais próxima do lado argentino é que eu queria muito ir nas Cataratas pelo lado de Puerto Iguazú, por que já conhecia pelo lado brasileiro de Foz do Iguaçu. Passei boa parte da viagem colhendo informações de como chegar lá e tentando convencer qualquer um a ir comigo. Tentei gente do hostel, minha colega de São Paulo. Todo mundo falava "Vale a pena ir", mas não ia. E eu não queria ir sozinha. Eu ia tá no meio do mato, sem pesos trocados, precisava de todo um esquema mirabolante pra pegar um remis direto na Aduana (porque taxis não podiam cruzar a fronteira) e ainda o sinal do meu celular não funcionava na Argentina porque eu não tinha um chip de lá.


Talvez a falta de sinal até fosse um sinal pra não ir - mas eu queria muito ir... Só não sozinha.


E sabe o que dá menos medo do que ir sozinha? Ir encontrar um desconhecido que você só sabe o nome, pegando carona com um desconhecido que você não sabe nem o nome!


Já estava nos últimos dias pra ir, quando um italiano ruivo apareceu tenso por ter sido abandonado pelo ônibus ali na Aduana enquanto fazia a entrada no Brasil. Lá fui eu explicar que era assim mesmo, que o ônibus da Aduana não espera ninguém e que ele quem precisaria esperar o próximo dali 1h. Fizemos sala enquanto o ônibus dele não chegava. Lá é só meio de passagem, a Aduana é um prédio modesto, sem nada, nem banquinhos, só dava nós e os federais praticamente, os estrangeiros geralmente cruzavam a fronteira de carro sem muita interação. Foi legal ter alguém ali diferente entre nós.


Tava um papo meio genérico até ele pedir dicas de como ir nas Cataratas Argentinas, onde queria comemorar seu aniversário dali dois dias. ISSO MESMO, nas mesmas cataratas que eu queria ver!


FINALMENTE ACHEI A COMPANHIA QUE TANTO BUSQUEI.


Acabamos combinando que iríamos juntos. O único porém foi que não trocamos contato, não combinamos horário, nos empolgamos no resto e esquecemos de combinar o básico. O ônibus dele chegou no susto, ele saiu correndo e nós voltamos ao trabalho.


Dois dias depois, no último dia em que poderia ir, eu já estava resignada em ir sozinha, fiz o que pude, né?


E AÍ O ITALINAO RUIVO APARECEU DE NOVO.


"Esquecemos de combinar como faremos!"


Dessa vez combinamos direito. Ele já estaria na Argentina e eu ainda tinha mais algumas horas de trabalho. Quando acabei, deixei as coisas no hostel e voltei correndo pra Aduana pegar um remis e algo que até 1h antes, todos os dias, passava ali a cada 10 minutos, naquela hora não passou nenhum. Nem na hora seguinte. Eu o avisei que atrasaria e ele me encontraria já dentro do parque das cataratas pra não perder muita coisa enquanto eu fiquei na loucura de correr atrás de carona com a ajuda de um dos federais que já me conhecia. O federal acabou perguntando pra um argentino aleatório "Ei, você não a levaria para as Cataratas?" e na pressão do atraso eu entrei no carro como se isso fosse normal e só fiquei tensa quando o federal berrou, com o carro já andando "Pode ficar tranquila que se acontecer alguma coisa nós temos a placa e todos os dados do motorista!" - sim, só nessa hora eu pensei quais coisas poderiam acontecer, mas que, ufa, não aconteceram.


Essa, obviamente, é uma das minhas decisões que não recomendo a ninguém.

Mas deu tudo certo (mas podia ter dado muito errado).


Eu já estava no limbo pra chegar com o parque aberto, faltavam dois minutos para os portões se fecharem. Lá no parque tinha wifi e foi só aí que consegui mandar mensagen de novo, já conformada que ele devia tá cagando pro nosso combinado depois de toda enrolação. MAS ELE RESPONDEU, eu real fiquei surpresa porque já estava tudo desencontrado, dando errado, não dava muito tempo pra ver mais nada, eu só queria descer do carro do desconhecido. Peguei o trenzinho e quando já nas cataratas, lá estava ele esperando: baita alívio de ver aquele desconhecido, depois de fugir do outro desconhecido. Sem ironias. Esquisito, né? Energia é um negócio que não precisa de nomes.


Contei toda a saga do atraso enquanto ele me mostrava nas pressas o que já tinha conhecido sozinho.


E então lá estava as tão desejadas Cataratas do lado argentino...


Minha arianedade finalmente iria poder comparar com as Cataratas do lado brasileiro só pra no final não conseguir escolher qual a melhor. A arianedade dele fez a mesma coisa. Declaramos empate. São experiências semelhantes, em lados diferentes do mesmo lugar e ainda assim muito únicas.


Como várias gotas juntas podiam tornar aquela paisagem tão imponente e poderosa?

É o poder do coletivo. As Cataratas pareciam uma revolução.


E então nos chamaram, o trenzinho iria embora. Pegamos o ônibus pro centro de Puerto Iguazú. Não tinha muita coisa aberta, só encontramos um bar mexicano. Conversamos por horas. Apareceu um guitarrista fazendo serenatas. Cantamos Parabéns Pra Você. Tivemos uma sessão de terapia falando sobre nossos pais. Ele contou que trabalhou o verão todo catando maçãs de madrugada pra estar ali e eu contando que se meu trabalho não pagasse eu nem ia ter como estar lá. O que me fez pensar muito em ir catar maçãs no norte da Itália. E tudo aconteceu na despedida, quando ele perguntou...


"...E as Cataratas foram como você tanto esperava? Valeu a pena todo o esforço?"


"MUITO. Foi muito melhor do que eu imaginei!!! Tanta dificuldade, tanta coisa dando errado que eu quase achei que era um sinal pra não ir... Mas aí foi tão mágico quando você apareceu do nada DUAS VEZES. Eu queria muito ir e resolvi arriscar que era um sinal dos bons e realmente foi! Deu tudo certo! Tudo está sendo incrível! To muito feliz."


"Mas por que você precisava de algum sinal? Você é a pessoa que mais queria ver as Cataratas! Nunca vi alguém tão empolgado pra ir em algum lugar!"


"Ah, eu não esperei em si um sinal, eu só queria uma companhia, e quando eu encontrei uma de uma maneira completamente inesperada, aí sim eu achei que era um sinal, mas eu teria ido de qualquer jeito! É que, sei lá, sinais dão certezas."


"Dão? Espero que não. Acho que se eu pensasse como você eu jamais estaria aqui. Todos falaram pra eu não vir... Pensando agora, talvez até tenham tido alguns sinais ruins pra não vir pra Argentina... Mas eu acho que deu bem certo também! Talvez você não precise de sinais quando já sabe o que quer. Ou o querer talvez seja o maior sinal de todos."



Universo, eu só queria UM sinal...

Por que a TIM não pega na Argentina??

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