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UM GOLE DO UNIVERSO

em crônicas

Em 2016 coloquei como uma das metas do ano "Aprender a fazer um bom nhoque", mas foi só no final de 2018 que finalmente fiz um nhoque com cara e sabor de nhoque. Um prato que eu pensei "Eu pagaria por isso em um restaurante. Não pagaria muito caro, mas pagaria". E considerando meus talentos gastronômicos, pra mim isso foi uma baita conquista, que só foi possível porque eu me empenhei muito mais do que nos anos anteriores. Em um mês eu fiz mais nhoques (e tentativas de nhoques) do que a soma de todas as tentativas dos dois anos anteriores. Eu aprendi empiricamente que a repetição constante é um importante hábito para aprendermos a fazer algo que exige técnica, tal como escrever... Que é uma das minhas metas de 2019 :)

O blazer e a bota

Foto do escritor: Karen HarumiKaren Harumi

(depois de tanto tempo sem inspiração, tentando lembrar como é que eu podia escrever sobre tanta coisa aleatória - FINALMENTE ISSO REACONTECEU! Acordei e o texto veio pronto, que saudades de ser eu)


Eu tinha acabado de comprar meu blazer favorito {até porque na época era o único [mas era o tipo de peça que eu comprei sabendo que mesmo que eu comprasse muitos outros (e comprei) ainda se manteria meu favorito (e se mantém), porque se eu pudesse só ter um blazer, ainda seria aquele, daquele jeito]} quando dois dias dentro do meu guarda-roupa e a Meia Noite, minha gata, achou oportuno entrar, escalar as roupas pela manga, se equilibrar nos finos cabides e cravar a bandeira da conquista no topo do armário.


A consequência foi que o blazer, feito de um tecido acetinado, rosa, delicado, costura a mão, teve os fios puxados. E o que me havia custado um rim, parecia ter custado um rim estragado. Fiquei extremamente frustrada, ralhei com a gata que me olhou daquele jeito meigo, inocente e superior de quem não liga para coisas materiais e já sabe que o valor de tudo está nos momentos, e eventualmente desabafei sobre o blazer com a minha irmã em uma conversa casual.


Que legal! Agora virou realmente seu. Tem uma história. Sempre que você olhar pro desfiado você vai lembrar da Meia Noite. Ela vai estar sempre com você no trabalho.


Eu não preciso que as minhas roupas novas estraguem antes mesmo de eu usar pra lembrar da Meia Noite...


Eu estava pistola.


Mas ela tinha razão e só percebi hoje.

Mil anos depois, acordei e pluft.


É bem verdade que eu sempre lembro da gatinha quando uso o blazer. Na verdade, eu sempre dou risada quando lembro. Principalmente do quão brava eu fiquei e da audácia dela em me olhar e ignorar, elevadíssima, sem entender por que eu ficava tão aborrecida enquanto ela me exibia seus movimentos maneiros.


Mas recentemente um grande amigo me convidou de última hora para um festival e como eu havia dormido fora, precisei superar aquela ânsia por investir horas em toda uma produção simbólica (com simbologias bem aleatórias que às vezes ninguém saca) e ir com a roupa do dia anterior. Isso incluía uma botinha linda, até que com bastante cara de festival, mas com o conforto de um tapete de pregos. A bota é de um tecido refletor, lindão, que ficou escondido no meio da lama que se apossou dele no primeiro passo que dei ao entrar no Autódromo de Interlagos.


Devia ter lavado assim que cheguei em casa, mas só tive forças para deitar e dormir e esquecer que o sapato existia por dias, até lavar e descobrir que as manchas da lama não saem por nada nesse mundo. Já lavei 100x, passei sabão, álcool, vinagre, lima, água quente o e tudo o que vi na internet. Dois terços do sapato agora tem um tom marrom e marcas bem acentuadas e... Do nada... Real, do nada mesmo... Hoje, meio dormindo meio acordada ao me levantar, pensando que eu preciso doar ao menos metade das minhas coisas pra que eu consiga estar no meu quarto, eu lembrei dessa bota... Será que é o caso de doar agora que ela está toda manchada?


“Como pode, né?”


...E aí lembrei de milhares de coisas significativas que culminaram neste resultado.


O convite de aniversário que me levou a sair na noite antes do festival, o momento da escolha, eu quase saí de galocha! Mas a bota combinava melhor com o corpete... Que por sua vez foi escolhido porque eu não precisaria passar e a combinação já estava pronta na minha cabeça. Lembrei de todas as oportunidades em me sentar que eu não fiz questão porque jamais imaginei que passaria a maior parte do dia seguinte em pé e maçarocada. O momento em que o Kana me falou “O Félix falou pra você olhar o seu celular”. O momento em que olhei. O momento em que entendi que era um convite e tudo parecia cósmico. O momento em que pensei “Caramba, como eu sou mesmo feliz por ter esse menino na minha vida” e tudo isso que estou vivenciando agora com a bota eu vivenciei lembrando a aleatoriedade de quando o conheci e quão sortuda eu me sentia pela sua amizade, rindo sobre o bar de drinks. E quando pensei o quanto eu adoro ser uma pessoa espontânea que não faz muita questão de planejamento para fazer as coisas, assim como, já no dia seguinte, que um pouquinho de planejamento também não faria mal. O momento em que me afundei numa lama e atolei por uns 3 minutos (cronometrados pela música que tocava ao fundo). Ou quando ao procurar um amigo no festival eu preferi desbravar o lamaçal a seguir, pacientemente, a fila de gente aglomerada na pavimentação. O momento em que percebi que meu pé estava com uma bolha do tamanho da Groelândia no mapa do War e meus amigos me ajudaram a achar um meio seguro e mais em conta de voltar porque trem e metrô seria inviável, uma vez que eu não conseguia nem ficar em pé, e Uber já devia estar mais caro que meu blazer favorito. O alívio que foi chegar em casa e tirar os sapatos enlameados... A dúvida em escolher onde deixá-los e deixá-los por ali mesmo porque uma vez sentada na cama eu não conseguia mais me levantar. O momento quando acordei e o sapato e a lama me julgavam. De quando lavei, pesquisei e lavei.


Tudo...


Lembrei de tudo.

De todos os momentos que valem a pena viver.


E a Meia Noite tá aqui, meiga, me olhando sem me entender.



Lembrei porque eu empacava de postar aqui mais vezes...:

Como é difícil ilustrar as histórias e dar título a elas hahaha


(muito orgulho dessa montagem, porém)

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