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UM GOLE DO UNIVERSO

em crônicas

Em 2016 coloquei como uma das metas do ano "Aprender a fazer um bom nhoque", mas foi só no final de 2018 que finalmente fiz um nhoque com cara e sabor de nhoque. Um prato que eu pensei "Eu pagaria por isso em um restaurante. Não pagaria muito caro, mas pagaria". E considerando meus talentos gastronômicos, pra mim isso foi uma baita conquista, que só foi possível porque eu me empenhei muito mais do que nos anos anteriores. Em um mês eu fiz mais nhoques (e tentativas de nhoques) do que a soma de todas as tentativas dos dois anos anteriores. Eu aprendi empiricamente que a repetição constante é um importante hábito para aprendermos a fazer algo que exige técnica, tal como escrever... Que é uma das minhas metas de 2019 :)

  • Foto do escritorKaren Harumi

O Casarão de Dança da Freira

Atualizado: 24 de nov. de 2022

Ali ninguém tinha nome, as pessoas se conheciam por quem eram, por onde vinham ou pelo que faziam, não pelos nomes que seus pais queriam que fossem chamados.


Eu sempre soube disso, mas por alguns segundos me esqueci, como se em alguma outra vida os nomes tivessem sido importantes para mim. Por isso tentei olhar as placas nos uniformes sociais daqueles dois Policiais que apareceram para me interrogar naquela cama de hospital em que eu me encontrava, mas, obviamente, não tive sucesso. Não haviam placas para serem lidas.


Eram Policiais Investigativos, não estavam de uniforme de quem anda na rua fazendo pompa, são daqueles que te deixam na dúvida, não queriam ser identificados, mas queriam ser reconhecidos.


A lembrança veio aos poucos pra mim...

E conforme eles perguntavam, eu revivia:


"Eu... Eu estava na festa quando ele veio falar comigo, estava muito bem vestido, era muito bonito... É claro que eu fiquei encantada. Era cheiroso, a barba bem feita, com o cabelo aparado de um jeito que em qualquer outra pessoa ficaria horrível, mas nele tinha um charme... Era uma beleza simples, toda castanha, e ao mesmo tempo magnética, carismática, acessível, exatamente por ser despretensiosa... E a voz... Ah, eu fiquei feliz em perceber o interesse dele em mim. E não estou dizendo que naquela hora eu também não tive interesse, mas, como eu disse antes, eu estava com muita cólica, estava inclusive indo embora por isso. Eu não tinha nem condição de corresponder. Vocês precisam acreditar em mim. Quando ele me segurou no braço, eu só tentei desvencilhar e... E aí ele caiu. Acho que ele caiu, não me lembro bem. Ele tinha bebido, dava pra ver que estava alterado. Eu não fiz nada. E quando eu vi que ele bateu na parede e caiu desacordado, eu liguei na hora pra pedir socorro! Eu juro! E... Eu não lembro do resto direito... Por que mesmo eu estou aqui? Eu não lembro... Mas eu lembro que eu liguei e... Se vocês olharem nas câmeras de segurança, tenho certeza que vocês vão ver tudo isso! Deve ter alguma gravação! É a verdade! Não foi de propósito! Eu só tentei me soltar dos braços deles, vocês vão ver!"


Ao que um dos Policiais Investigativos tirou uma VHS de dentro da sua roupa e como se só tivesse escutado o final da minha história, respondeu "Essa aqui é a sua única testemunha? Que pena que ela derreteu no incêndio."


"Que incêndio?" Perguntei.


"O que vai acontecer hoje à noite, causado pelas pessoas que foram protestar em sua defesa e vão morrer derretidas no próprio fogo que causaram, junto com a fita..."


Eu demorei pra entender, mas ele continuou:


"Se você for esperta, você vai se lembrar exatamente do que aconteceu: Você ficou com ciúmes do Filho do Prefeito ter conversado com outra menina, vocês brigaram e então ele se machucou."


"Mas não foi isso que aconteceu. Ele quem ficou bravo quando eu disse que precisava ir embora. Ele quem me prendeu pelo braço e tentou me beijar a força, eu só me soltei! Eu não fiz nada!"


"Além de tê-lo matado, você ainda quer manchar a imagem dele? Não pode nem o deixar partir em paz? Que mal ele vai te fazer agora? ...Ou se você preferir a história pode ser que você surtou de ciúmes e o atacou, é... Essa história é mais convincente. Acho que foi isso que aconteceu. Vamos encontrar as testemunhas que vão poder confirmar."


"Não tinha ninguém lá essa hora."


"Exatamente. Não tinha ninguém lá..."


E então eu entendi.

Ninguém acreditaria em mim.

Quem era eu em relação ao Filho do Prefeito?


Quando os Policiais Investigativos saíram, da porta do banheiro saiu uma Enfermeira tão assustada quanto eu. Tinha ficado o todo o tempo lá sem ninguém saber, ouvindo o que me disseram. Ao aparecer repentinamente, não se apresentou, disse apenas:


"Você precisa encontrar a Cabeleireira. Eu ouvi tudo. Vou te ajudar a sair daqui e explicar como chegar lá, ainda dá tempo, mas você precisa vir comigo agora."


E eu fui.

Saí pela janela. Era um hospital térreo, em um prédio antigo, caí em um quintal cheio de árvores emaranhadas que puxavam o meu cabelo enquanto eu as atravessava. Segui o caminho como instruído por aquela mulher que eu desconhecia, mas que me disse a única coisa que eu precisava ouvir "Eu sei que você não fez nada", essa foi a sua despedida.


Depois de andar como um rato fugindo de uma vassoura, encontrei uma moça grávida, com uma barriga que parecia que já estava para nascer, no endereço indicado pela Enfermeira. Pensei "como é que ela iria poder me ajudar naquelas condições", e foi então que ela começou a mexer no meu cabelo depois de eu explicar quem eu era, de onde eu vinha e o que eu fazia ali.


Da parte dela, novamente, não teve apresentações.


Eu estava sentada de frente para um espelho velho, manchado, que ela olhava fixamente - mas não era a mim que ela via, era quem eu poderia ser. Contei que eu já havia tido o cabelo de tudo que é jeito. Loiro, preto, ruivo, roxo, rosa, vermelho, azul, verde, comprido, médio, curto, enrolado, liso... A única coisa que eu nunca havia sido antes, nem quando nasci, foi careca. Mas eu não queria:


"Vou ficar horrível! Não tem nada a ver comigo!"


"Acho que você ainda não entendeu. Você não vai mais querer ser bonita ou mostrar pro mundo quem você é, você vai querer apenas ser invisível."


Ela me vestiu com roupas usadas de algum menino três vezes maior do que eu e jogou meu cabelo no lixo sem sentimentalismo - isso ela deixou tudo para o macarrão que nos preparou e que só ficou gostoso por algum milagre divino, já que eu vi que ela não tinha tempero nem ingredientes pra fazer nada além de deixar a massa amolecer na água. Mostrou a foto rasgada de algum artigo de revista, o destaque era um casarão maravilhoso, imponente, luxuoso, ostensivo e enorme, que dizia na notícia ser uma casa de dança.


"Vamos para o Casarão de Dança da Freira. Vamos de noite, tem menos gente olhando."


"Casarão de Dança... Da Freira?"


"Sim. Você não é mesmo daqui, né? A Freira era a filha do Coronel mais importante daqui da região, ela nunca se casou, por isso o nome. As pessoas dizem que é pra ela não perder a pensão, mas eu acho que ela só não deve gostar de homem nenhum, ao menos não dos que conheceu. Não é difícil não gostar de nenhum homem crescendo aqui na Cidade. O pai dela até queria, sim, que ela fosse freira, e a colocou num convento quando a mãe dela morreu. Mas quando ele mesmo morreu, ela saiu no dia seguinte e transformou a própria casa num salão de danças e apresentações culturais e artísticas, o primeiro da Cidade. Ela pensava muito grande pra uma cidade muito pequena. No começo fez muito sucesso, vinha gente de fora visitar, de fora mesmo, de fora do país, porque também tinham quartos para as pessoas se hospedarem. Até que uma das suas dançarinas engravidou. Ninguém sabe muito bem como, mas todo mundo sabe de quem. É sempre assim aqui na cidade..."


E Cabeleireira não parou de contar, mas ao ouvi-la eu pensei que talvez o Bebê dela fosse do mesmo Filho do Prefeito que conheci, por isso ela acreditou e me acolheu tão rápido. E pensei que ela, sem aquele corte de cabelo torto, todo mal penteado, com uma cor queimada, malfeita, ou muito bem feita para escondê-la, devia ser incrivelmente bonita.


Ao mesmo tempo me veio o peso na consciência que, mesmo sem querer, eu havia matado o pai do Bebê dela.


Nessa hora já me era uma certeza tanto a ascendência do seu Bebê, quanto a morte do Filho do Prefeito.


"...Daí em diante o Casarão ganhou fama de bordel e tudo mudou. A Freira fechou a casa por um tempo, esperou a fofoca passar e a reabriu poucos anos depois. Chamou gente de tudo que é lugar do mundo. Famosos e desconhecidos, mas todos ricos. Tinha gente do jornal, da TV, e deixou a casa ainda mais linda do que já era, foi de quando saiu na revista, dessas páginas que eu te dei."


E conforme ela continuava a contar, eu visualizava tudo com clareza como se eu mesma tivesse sido uma das repórteres nessa reinauguração...


...A casa no topo de um pequeno morro e uma estrada larga de pedra que levava até o portão de entrada lá embaixo. Não era uma estrada longa, era apenas pra mostrar a imponência do lugar, esbanjando espaço decorativo.


Pela estrada iluminada com lamparinas, desciam três mulheres lindas, dançando, vestidas com aquelas roupas brilhosas meio cabaré francês, meio carnaval carioca. Uma das Dançarinas tinha o cabelo volumoso, porém curto e armado como o sol, reluzia mesmo de noite, o corpo forte e os olhos marcantes, tudo nela era negro. Outra Dançarina tinha o cabelo ainda mais volumoso e loiro, quase tão claro quanto a própria pele ou roupa, alta, esguia, com os olhos claros e igualmente marcantes. E a Última Dançarina era castanha tal qual o Filho do Prefeito, cabelo, olhos, roupa... Poderia ser facilmente irmã dele, inclusive.


Todas deslumbrantes. Elas desciam em direção à imprensa concentrada em volta do portão, esperando a sua abertura - no modo de dizer, pois o portão principal se encontrava aberto o tempo todo.


Tocava uma música animada, até o som baixar o volume para iniciar a apresentação...


Foi quando Uma das Dançarinas aproveitou aqueles dois segundos de silêncio e começou a rasgar a própria roupa negra e fazer seu protesto. Ela se desmontou, desfez o cabelo e por baixo da roupa rasgada mostrou a cinta e as peças de roupa cor da pele, querendo expor que tudo aquilo era falso e começou a urrar:


"...Tudo isso aqui está sendo feito porque um homem veio neste mesmo Casarão, fez o que quis e nos largou com as consequências. Um único homem arruinou dezenas de mulheres. Vocês não são bem-vindos aqui! NÃO SÃO! É bonito ver a gente sorrindo e dançando, não é? Mas quem veio aqui no ver quando estávamos chorando?"


...E nunca mais o Casarão foi um salão de danças novamente. A maioria das dançarinas partiram, incluindo a que protestou, e só ficou ali quem não tinha mais pra onde ir: a Dançarina que havia engravidado, a Outra Dançarina, amarelada, a Última Dançarina, a castanha, entre outras que não conheci.


Caminhamos pela noite, talvez rápidas demais, para quem estava com uma barriga daquele tamanho, mas ela em nenhum momento reclamou. O silêncio era o manto que nos escondia. Quando chegamos, mesmo já sabendo de toda a história, foi um choque ver ao vivo o Casarão e encontrá-lo decadente, velho e corroído. Como se essa história fosse de séculos atrás, muito porém tenha sido de poucos anos antes. Pichado, desgastado, com cara de abandonado. Pichações machistas e desrespeitosas, os muros pareciam uma grande carteira escolar da turma da 7ª série reagindo aos primeiros picos de hormônio. Se a sujeira já se destacava no escuro da noite em que quase nada era visível, o que seria possível enxergar na luz do dia?


Dessa vez o grande portão principal estava fechado, começamos a subir uma escada pela lateral para chegar à casa.


Lá em cima, nos últimos degraus, também subindo, haviam dois homens. Ao chegarmos na porta percebemos que eles insistiam em entrar. Um deles chorava bêbado e o outro esbanjava testosterona e agressividade exigindo entrar em busca de alguém.


"Homens não entram mais aqui." Vi a mulher que imaginei ser a Freira.


"Então nos diga onde é que está o Irmão dele, que ninguém nunca mais teve notícia depois que tentou vir conhecer a filha há mais de um mês!"


E ao fundo o outro berrava, chorava e exalava cachaça: "Cadê o meu Irmão?"


Foi quando a Freira me viu e olhou profundamente nos meus olhos, e então olhou a Cabeleireira e nos abriu a porta da antessala em que estávamos todos. Entramos, com o mais agressivo dos dois questionando em alto som "Ué, se você não deixa homens entrar, por que deixou esse menino passar?"


"Porque, como você mesmo disse, é só um menino, ainda não é um homem."


Mas a forma como ela me olhou antes, ela sabia quem eu era. Exatamente quem eu era.


Enquanto isso escutávamos os berros e a violência dos dois homens que começaram a quebrar tudo o que viam.


"Só nos diga onde ele está! Droga!"


A Freira reabriu a porta só pra dizer... "Se Deus ouviu o meu desejo, no inferno."


Eles ainda ficaram lá por um bom tempo, mas a Cabeleireira, depois da caminhada e todo o conflito em que chegamos, começou a entrar em trabalho de parto. As dançarinas começaram a ajudar como se já estivessem esperando por aquilo.


Talvez por acharem que eu tinha alguma intimidade com a Cabeleireira por chegarmos juntas, eu quem apoiei diretamente a Freira que atuava como parteira. Água, toalha, apoio. Prendi os cabelos em uma trança, a da Freira e a da Cabeleireira, que suavam igualmente tensas. Queriam chamar a Enfermeira, mas não havia tempo para esperá-la. Tudo ali era longe e não parecia ser a primeira vez que a Freira fazia aquilo. Ao final, de tanto limpar, havia quase tanto sangue em mim quanto na mãe, mas deu certo. Por cinco minutos o mundo foi feliz. Todas aquelas caras judiadas sorriam e parabenizavam. Era tanta gente nova e tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, que eu não conseguia assimilar tudo ao mesmo tempo. Foquei em ajudar quem há tão pouco havia me ajudado. Mas a Cabeleireira não parava de perder sangue e a Freira decidiu que inevitavelmente teríamos que ir à casa da Enfermeira pedir ajuda.


Fomos todas a pé, não era seguro nenhuma mulher ficar sozinha naquela casa.


A Cabeleireira que estava nua no parto, vestiu uma roupa limpa por cima das faixas que tentavam estancar o sangue, a Freira que até então usava um roupão, meio jaleco, retirou e foi somente com a roupa debaixo. Eu fui a única a sair suja e ensanguentada, ainda segurando o bebê, que na pressa eu cobri no lençol tão sujo quanto eu de sangue.


Saímos no silêncio, vimos que os dois homens a esta hora já não estavam na antessala.


Milagrosamente chegamos aonde tínhamos que chegar. A Enfermeira relatou que o bebê veio muito antes do esperado, fez tudo o que estava ao seu alcance e já no final do outro dia nos foi anunciado que precisávamos todas voltar ao Casarão, nenhum lugar nunca era seguro. A Cabeleireira estava fraca, mas precisaria andar todo o caminho de volta. As mulheres se revezavam para servir-lhe de apoio e segurar seu novo Bebê, já limpo e em um novo lenço. Até a Criança, a filha da Dançarina, com uns quatro anos ou mais, gostava de fingir segurar o Bebê que ela já sonhava que algum dia iria poder lhe fazer companhia nas suas brincadeiras, até então solitárias.


Comecei a reparar no caminho, de dia, com menos emoções acontecendo, foi possível perceber um ponto de ônibus logo na porta do Casarão. A Última Dançarina explicou que era em função de quão movimentado ali já foi um dia e que, apesar de ter sido um lugar de ricos, a Freira havia ido muitas vezes na Prefeitura até conseguir tornar mais acessível o caminho para os que trabalhavam ali ou os que desejavam conhecer pela manhã, quando o Casarão virava apenas um museu aberto pra todos.


Quando já estávamos para subir as escadarias, comentei do meu receio dos dois homens da noite passada estarem lá novamente, mas elas me tranquilizaram e garantiram que não estariam.


"É sempre assim... Eles vêm, berram, brigam e depois vão embora."


E então eu ouvi o primeiro tiro.

Foi tudo muito rápido. Começamos a correr.

Eu estava na frente e ainda segurava os lençóis sujos que eu trazia para lavarmos, embolei-me toda, tropecei e caí. Mais tiros, uns três pra cada. Ao ver que todas haviam sido atingidas, eu me mantive ali no chão, imitando-as, já mortas.


Do que eu consegui ver e ouvir, sobraram o Bebê, caído nos braços de uma das dançarinas, chorando para quem pudesse acudir; a Criança agachada, chorando ao lado da mãe, e a Freira, atingida, mas ainda viva.


De novo ela me olhou como quando cheguei no Casarão.

Ela sabia que eu também estava viva.


Os dois homens haviam nos feito uma emboscada, estavam no topo do morro, longe. Depois de muitos tiros, desceram. Ouvi um deles perguntar sobre mim e a Outra Dançarina caída ao meu lado, nos chutou e disse "Estão mortos, estão todos ensanguentados. O menino foi um dos primeiros a cair, eu vi de longe."


E então se dirigiram para o Bebê e a Criança, que choravam ardido.


Quando o mais Agressivo dos dois apontou-lhes a arma, o outro, que já não estava mais bêbado, interveio "São só crianças, a gente não precisa matar!"


"Claro que temos que matá-las. Vão crescer sem pai, sem mãe, perturbadas, traumatizadas, sozinhas, sem empatia por ninguém e quando forem grandes o suficiente para lembrar ou entender o que aconteceu, vão ir atrás da gente pra se vingar, e terão motivação suficiente pra não fraquejar na missão. Você nunca viu Kill Bill? A gente nem vai lembrar mais de hoje e elas nos pegarão de surpresa!"


"Mas essa é a filha do meu irmão, ainda está pequena. Eu cuido dela! É minha sobrinha, elas são só crianças, a gente pode contar a versão que quiser."


"E se um dia ela descobrir? Você vai conseguir ser sincero? Você quer mesmo desenvolver laços por alguém que vai te odiar mesmo sem saber que foi você? Toda vez que ela chorar pelo acidente ou do assaltante que você inventar que matou a mãe dela, é de você que ela terá raiva."


E o lençol ajudou a esconder as minhas lágrimas ouvindo tudo isso quando ele encerrou a conversa atirando em ambas.


O silêncio que surgiu ia me denunciar e então puxaram o corpo da Freira que também se fingia de morta deitada no chão. Eles insistiam em perguntar sobre o Irmão, o que ela tinha feito com ele, onde havia jogado seu corpo - e ela não respondia nada. Talvez estivesse morta por dentro.


Assim como algo me sussurrou a paternidade do Bebê da Cabeleireira, eu soube que a crueldade que vinha do mais Agressivo daqueles homens era fruto de uma paixão reprimida e não verbalizada pelo Irmão perdido. E então ele bradou que deixaria o coração da Freira do tamanho que ele realmente tinha: inexistente.


E atirou.


Com o sangue dela escreveram sob uma placa a mensagem "Em memória do meu Irmão, o Casarão foi fechado" e deixaram nas escadas, com todos os outros corpos ali largados.


Fiquei um bom tempo ainda deitada, com medo de me mexer e eles perceberem e, principalmente, sem saber como reagir.


Já era de noite novamente, tudo extremamente escuro como quando cheguei na primeira vez, comecei a cogitar a me levantar quando ouvi passos e decidi permanecer imóvel entre o cheiro e as lembranças.


...Era outro homem, eu não o enxergava, mas eu sabia. No escuro ele nem reparou nos corpos jogados ali, foi direto ao portão principal segurando um buquê muito bonito, cheio de flores frescas que tinham um aroma que quase se sobrepunha ao da crueldade que havia sido largada na rua, gritando aos plenos pulmões:


"Eu voltei, Dançarina! Eu voltei! Sou um novo homem! Demorei, mas consegui um trabalho! Vou cuidar de você e nossa filha! Por favor, abra a porta pra mim dessa vez!!"


 

Crônica baseada no meu sonho de 20 de novembro de 2020.


Em breve coloco aqui a versão original não-croniczada.


E no meu sonho, Sônia Braga atuou como a Freira belissimamente, pra variar

(digo "pra variar" por causa da carreira dela, no meu sonho foi a 1ª vez, mas ela tá convidada a atuar nos meus sonhos quantas vezes quiser!!)


Créditos

Sônia Braga Freira

Eu Eu mesma, mas careca

Viola Davis Uma das Dançarinas

Nicole Kidman Outra Dançarina

Selton Mello Irmão Chorão do Irmão Perdido

Brad Pitt Agressivo

Chay Suede Filho do Prefeito




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