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UM GOLE DO UNIVERSO

em crônicas

Em 2016 coloquei como uma das metas do ano "Aprender a fazer um bom nhoque", mas foi só no final de 2018 que finalmente fiz um nhoque com cara e sabor de nhoque. Um prato que eu pensei "Eu pagaria por isso em um restaurante. Não pagaria muito caro, mas pagaria". E considerando meus talentos gastronômicos, pra mim isso foi uma baita conquista, que só foi possível porque eu me empenhei muito mais do que nos anos anteriores. Em um mês eu fiz mais nhoques (e tentativas de nhoques) do que a soma de todas as tentativas dos dois anos anteriores. Eu aprendi empiricamente que a repetição constante é um importante hábito para aprendermos a fazer algo que exige técnica, tal como escrever... Que é uma das minhas metas de 2019 :)

  • Foto do escritorKaren Harumi

Resilivência

Atualizado: 19 de nov. de 2019

[19º dia]

Hoje*, quarta-feira, teoricamente um dia aleatório.

Na hora do almoço eu e a minha mãe estávamos indo para o restaurante, muito normal também.


Estávamos na rua do SESC Santo Amaro em um pedaço que é cheio de restaurantes em frente à um grande banco (de nome e tamanho físico). As pessoas saem de lá em comboio pra almoçar e aquele pedaço da rua fica bem movimentado de gente com crachá.

Estava tudo conforme o esperado, quando do nada apareceu um homem bêbado dando bicudas em um senhor que dormia na calçada da rua. Assim do nada mesmo.


Eles estavam uns dez passos pra fente.

Minha mãe foi parar quase no meio da rua.


Em um segundo três mulheres que estavam do lado do senhor entraram na frente berrando "POLÍÍÍCIA!" e em menos tempo ainda apareceu um terceiro homem imobilizando o bêbado. Eles foram até a esquina e quando o Bêbado foi solto, jurava que ele ia revidar no Terceiro Homem, mas só levantou as duas mãos e disse "Calma aí, camarada", muito provavelmente porque aquele Terceiro Homem estava bem mais preparado pra enfrentá-lo do que o Senhor que estava deitado na calçada. A coragem virou sensatez.


O Terceiro Homem que imobilizou o Bêbado não era daqueles portes "NOSSA, QUE HOMEM FORTE!", mas só de tá acordado e em pé já estava em condições mais iguais de luta, né?


As pessoas começaram a caminhar novamente.

Minha mãe já tinha voltado pra calçada quando andamos mais um pouco e encontramos o Senhor pouco a frente, do outro lado da rua, acendendo um cigarro que ele parecia ter pedido pra um moço de crachá bem em frente à porta do banco.

Outras pessoas já tinham ido ver se ele estava bem e a gente o acompanhou de longe.

Ele acendeu, agradeceu e se virou pra rua, onde acenou para os carros para atravessar ali mesmo e saiu andando meio torto. Por causa disso a minha mãe comentou:


"Acho que ele tá bêbado também."


Eu pensei "Tomara. Bêbado as bicudas que ele levou devem de doer menos." Mas achei a frase muito polêmica pra minha mãe e só respondi um "Acho que ele deve estar bem dolorido."


E ele voltou pro mesmo lugar que estava deitado antes, como se nada tivesse acontecido.

Ele até sorriu.

Não que eu achasse que ele tivesse muitos outros lugares pra ir ou que tivesse que andar com cara de triste, mas sei lá, a sequência de ações que ele tomou depois de toda aquela cena me fez parecer que aquilo era uma coisa bem cotidiana.

Algo meio

"Agora que já levei a bicuda do dia, vou ali pegar um cigarro e já volto aqui pra sentar."


Pois bem, fiquei travada ali na rua por um tempo com isso na cabeça, quando a minha mãe tentou me resgatar pra esse planeta.

Eu sei que ela tinha a melhor das intenções e eu fingi obedecer pelo bem da refeição que a gente ainda ia comer, mas o que ela disse me desmontou.


"Tira isso da cabeça, não pensa nisso, não. Você não pode fazer nada. É muito triste, mas você vai fazer o quê? Acontece mesmo. Não fica assim. Ele tá bem, você não viu? Agora me conta sobre esse nhoque que você gosta tanto que você tava falando!"


...


Até quando eu vou me conformar em "não poder fazer nada"?

Eu não consigo sair da caixa que me prende na noção de que o melhor que posso fazer é falar sobre isso, ter consciência e não fazer o mesmo mal que eu vejo sendo feito.


...Preciso urgentemente aprender o que mais posso fazer pelas pessoas que sem eu nem saber quem são, me ensinam tanto sobre a incrível capacidade de resiliência que desenvolvemos para sobreviver.


Mar Morto

Não há vida onde não há equilíbrio




*Hoje, o dia que estou postando isso aqui no blog, na verdade é 19.01.19, sábado. Estou em Dionísio Cerqueira. Contudo, hoje vi uma pequena situação que me fez lembrar do que a minha mãe me disse nesse dia de Setembro de 2018, em que vivi e escrevi tudo o que está aí em cima, mas não tinha postado antes.

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